I-XCI Jaezes de vida e morte

Cada podre lembrança tira-me o fascínio por esperança,

como o fascínio dos mortos-vivos que me pedem abrigo:

Fiz-me correto ao perdê-los nos prantos,

pois hoje mal os ouço enquanto me afundo em planos.

Que vaidade duvidosa,

construí-me diante da civilidade e da honra,

tornei-me muito com o pouco que me colabora.

Com poucos momentos lembrei de ti por horas,

fazendo busca das verdades, procurando evidências

nas nuances dos ares.

Mas que moribundo é a vida,

sem perigo, me abati, e curado fui-me sem sentir.

É loucura da cabeça humana,

peguei mais dos meus irmãos

e pouco da mãe em eterna oposição.

Era por conta dos monstros no caminho,

por conta da vizinhança sem-abrigo,

por fazerem-me de ingênuo em perigo.

Agora mal sobrevivo do luxo entre privilégios,

tenho tanto que me jogo sem um mísero critério.

E há quem diga que fácil foi existir,

que não foi sacrificante persistir,

a culpa é minha forma de agir:

Sereno, mas imprudente, apaixonado e carente,

há tempo que mais amo do que me faço insolente,

mas o vício de ter-me aqui possui-me sem me ver persistir:

quase perto do fim, temo a chacota que virá a mim.

Que os sonhos me tirem da dor, para que eu me recomponha no amor.

Murilo Porfírio
Enviado por Murilo Porfírio em 07/04/2023
Reeditado em 18/02/2024
Código do texto: T7758564
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