A questão do respeito

Quando uma pessoa é grosseira e gosta de azucrinar e ofender os outros, é comum que ela use a desculpa de que estava apenas brincando ou sendo sincera de forma a fazer parecer que o alvo das suas ofensas ou brincadeiras inconvenientes é sensível demais ou a interpretou errado. Infelizmente, esse é um problema muito comum, principalmente no ambiente escolar. Uma criança que seja quieta demais, tímida, gorda, muito baixa ou alta pode se tornar alvo de bullying por conta de suas características. E a turma que reclama que hoje em dia todo mundo está cheio de mimimi logo irá dizer que as pessoas de hoje estão cheias de frescura, que sempre existiram pessoas que fizeram brincadeiras e que antes ninguém se ofendia tanto. Será que ninguém se ofendia mesmo?

O que a turma do mimimi parece não entender é que as coisas mudam. Precisamos aceitar que os valores e a forma de encarar certas coisas passaram por transformações e nós também precisamos mudar. Se antes chamar um colega de turma de girafa por ser muito alto era normal, hoje isso é bullying e tem que ser posto um limite, pois quem faz bullying pode partir para brincadeiras mais pesadas se não encontrar resistência. Da mesma forma, pensemos em coisas como racismo e homofobia. Agora, racismo e discriminação por orientação sexual são crimes e não podemos querer negar esta nossa nova realidade.

Temos que entender que brincar não significa desrespeitar. Pensemos no caso de um colega que gostava de ficar dizendo a uma menina: “Mas você é feia, Adriana*. Você é muito feia. ” Quando ela reclamou para que ele parasse de chama-la de feia, ouviu a desculpa: “E eu vou dizer que você é bonita?” Digamos que eu ache que uma pessoa é muito feia. Isso me dá o direito de ficar a ofendê-la, chamando-a de coisas como espantalho ou trem virado? E no caso de uma pessoa estar acima do peso? Vou ficar a chama-la de baleia ou rolha de poço? Vou chamar alguém que seja homossexual ou transexual por nomes pejorativos? Ou xingar uma pessoa que tenha dificuldades cognitivas de retardada, imbecil, lenta e idiota?

Respeito era algo que deveria ser ensinado às pessoas desde a infância. Entretanto, como pais racistas poderão ensinar a uma criança que não se deve discriminar alguém pela etnia? Se uma criança cresce em um lar onde ouve que homossexualidade é uma aberração da natureza, como ela irá respeitar o fato de que a diversidade sexual é uma realidade e que temos que respeitar as pessoas tal qual elas são? Se os pais são preconceituosos em relação à cor da pele, gênero, orientação sexual e até religião, o natural é que a criança cresça cheia de preconceitos, achando até normal discriminar quem é diferente dela, porque ela não entenderá que todos são diferentes e todos devem ser respeitados.

Assim, o que devemos fazer? Aceitar que as pessoas sempre serão preconceituosas e rudes? Não, devemos lutar para que as coisas mudem. Embora a passos lentos, nós temos progredido. Hoje, existem leis como a Maria da Penha e a lei antirracismo que, se não mudam a cabeça de quem é preconceituoso, pelo menos dão a quem é alvo de preconceito um amparo legal para que possam lutar por seus direitos.

*nome trocado para proteger a privacidade.