A depressão escrita

Desde criança eu ouvia que eu era muito quieta, muito na minha, as vezes até mais triste que o normal, anos depois eu descobri que era depressão. Eu sempre me senti diferente das minhas irmãs, menos querida, menos feliz, menos tudo, só que eu nunca entendi o porque disso. Eu sempre tive a impressão de que todo mundo ao meu redor estava falando de mim, me apontando, rindo ou então que estavam com raiva de mim, só que eu nunca entendi o motivo.

Em 2016 eu fui morar com o meu pai, talvez ele fez o melhor que ele podia, mas o melhor que ele podia me gerou questões que eu lido até hoje, 2023 com quase 23 anos... desde ouvir que a minha mãe nunca me quis, pressões psicológicas, saber quando ele estava ou não de bom humor só pelo tom de voz, hoje qualquer alteração de voz de qualquer pessoa me gera uma ansiedade imensa e eu me recolho com medo ou pergunto insistentemente se eu fiz alguma coisa ou se aconteceu alguma coisa. Eu não podia falar com a minha mãe, então eu não conseguia afirmar pra mim que tava tudo bem, que ela ainda gostava de mim (já que eu ouvia que não), tudo isso intensificou ainda mais a minha ansiedade.

Mesmo depois de tudo isso, as sequelas emocionais tem sido irreparáveis, em alguns dias como hoje por exemplo, eu queria ter coragem de não insistir mais em lidar com isso diariamente.

Hoje as minhas dores emocionais me causam dores físicas, uma dor no peito tão forte que me dói além da alma, o físico... como isso pode acontecer, não é? Entre remédios, psicólogos, psiquiatras e mais remédios, eu só queria a paz de não precisar mais deles. Eu tenho vontade de gritar comigo mesma e com todo mundo, sem motivos mas eu tenho. Talvez isso amenizasse a minha dor ou talvez assustasse a minha mãe que eu sinto que é a única que se preocupa comigo, não sei se por pena, culpa ou porque diferente do que eu ouvia, ela me ama. Eu acho que me amo, só tem dias que eu não amo a vida, viver, existir, sentir.

Recentemente eu entendi sobre o que a música Bohemian Rhapsody, nunca foi sobre um homem que havia matado outro, como eu pude não entender mesmo ouvindo milhões de vezes? Enfim, eu não queria morrer mas às vezes eu desejo que eu nunca tivesse nascido (espero que tenham entendido a referência).

Eu não me arrependo de muito coisa, só que as poucas coisas que eu me arrependo me consomem um pouco todos os dias e horas da minha vida. Poderia ter sido diferente, eu poderia não ter aceitado metade das coisas que me foram impostas, eu poderia ter saído daquele maldito quarto ou ter ido dormir, eu poderia ter feito muitas coisas mas não fiz, e talvez hoje eu não fizesse, a eu de 16 anos não é a mesma da eu de quase 23 e tudo bem.

Deixo aqui meu talvez adeus, eu venho perdendo interesse em muitas coisas, incluindo me expressar através das palavras. Antes elas faziam sentido, tinham conexão, hoje elas são mais desconexas que os meus pensamentos.

Noemi Nayara
Enviado por Noemi Nayara em 06/06/2023
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