I-XCV Jaezes de vida e morte

E como fez-me mais do que são,

continuei a procura do que me devolva à ilusão.

É fácil perder-me no dia sem que sinta algum calor,

reencontro-me sob sete palmos do mal e do rancor:

O que fez da vida imperfeição, que leva quem nos dá a mão,

que escuta o anseio e ri do nosso louvor,

que ouve as preces e nos impede de ver quem nos matou.

Assim pago por o que não sei, privilégios ostento sem ser alguém,

sou tão grato ao acaso que o dei o nome de "ninguém".

Que seja assim, então, a vida, sem critérios mas com contextos,

com deveres velados e razões em segredo.

À fina alma que me alegrou um dia:

Lembro-me da euforia sem que eu sinta alegria,

como disse sobre os saltos do amor,

que, com um belo passado, ainda se tranca

no futuro sem esperança.

Vivo o fascínio por ter alguém, e sofro

por temer quem mais o tem, pois as promessas

vêm com rumores, para que sobreviva a paz

sem que revele meus temores.

Não é escolha viver como um tolo,

é consequência de ser-me ao todo.

Murilo Porfírio
Enviado por Murilo Porfírio em 17/06/2023
Código do texto: T7816125
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