A MORTE SE RESSENTE

A morte anseia o fim, do alto de sua infinitude,

pode matar a tudo e a todos, menos a si.

A morte deseja morrer.

A morte anseia o fim, do alto de sua agonia,

observa a passagem do tempo e da vida.

Seu fardo é viver.

A morte anseia o fim, do alto de sua eternidade,

está cansada de lidar com partidas.

Ela anseia por desaparecer.

A morte anseia o fim, do alto de sua permanência vã,

provoca dores, sem poder compartilhar alegrias.

Seu destino é existir.

A morte anseia o fim, diante da clareza de que há

partidas inevitáveis e necessárias, ela segue desamparada,

ressentida por saber-se a última,

triste pela sina de matar.

Ela deseja partir.

A morte anseia o fim.

Ela está chorando, tempestades, raios e trovões.

Ninguém escapa do poder da morte,

nem a própria morte escapa ao dever de Ser.

Seguir, observar, tramar, triste realidade.

A morte tem inveja do privilégio humano de fenecer.

Buscando ser substituída, pega na armadilha da vida,

não pode abater-se sobre si.

Do alto de sua solidão, a morte anseia o fim.

Regina hoje e sempre
Enviado por Regina hoje e sempre em 08/07/2023
Reeditado em 08/07/2023
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