A MORTE SE RESSENTE
A morte anseia o fim, do alto de sua infinitude,
pode matar a tudo e a todos, menos a si.
A morte deseja morrer.
A morte anseia o fim, do alto de sua agonia,
observa a passagem do tempo e da vida.
Seu fardo é viver.
A morte anseia o fim, do alto de sua eternidade,
está cansada de lidar com partidas.
Ela anseia por desaparecer.
A morte anseia o fim, do alto de sua permanência vã,
provoca dores, sem poder compartilhar alegrias.
Seu destino é existir.
A morte anseia o fim, diante da clareza de que há
partidas inevitáveis e necessárias, ela segue desamparada,
ressentida por saber-se a última,
triste pela sina de matar.
Ela deseja partir.
A morte anseia o fim.
Ela está chorando, tempestades, raios e trovões.
Ninguém escapa do poder da morte,
nem a própria morte escapa ao dever de Ser.
Seguir, observar, tramar, triste realidade.
A morte tem inveja do privilégio humano de fenecer.
Buscando ser substituída, pega na armadilha da vida,
não pode abater-se sobre si.
Do alto de sua solidão, a morte anseia o fim.