A louca arte de Ino(Var)

Um ser pensante experimentalista, daqueles que não ficam no mimimi e mete a mão na massa, disse que "loucura é fazer tudo igual e esperar resultados diferentes dos habituais".

Sóbrio, Ouvindo Begga'rs Ópera, contemplando as nuvens estacionárias desocupadas acolchoando o ocaso, observando as bananeiras empunhando as folhas para o céu e o vento desfiando-as e ao desligar-me da alquimia sonora, para ouvir o alegre cacarejar das galinhas ao depositar mais um ovo no ninho de palha para o patrão, pensei no que disse o pensante experimentalista e pisando em ovos, de mansinho, pé ante pé, fui até o galinheiro, joguei um pouco de milho para elas e em troca, roubei os ovos das desavisadas e os coloquei no vaso de flor.

Quem sabe a mistura amanhã seja uma omelete de pétalas de flores? Se a experiência funcionar, darei flores para as galinhas comer; aí serei poupado do trabalho de ir buscar os ovos, coloca-los no vaso, etc. E o resultado: uma omelete sairá direto do forno para o prato? Tudo e nada é possível.

Ah, que deliciosa, nutritiva, colorida e louca mistura! E ao alimentar minha mente com tal iguaria, provavelmente, nem as galinhas, nem as flores, nem Eu, nem os ventos, nem a banda Beggar's seremos os mesmos. Pois, perante a louca arte de inovar, até os jardins, bosques e florestas que estão cinzentos, empoeirados, voltarão ser verdes oxigenados. Ratificando que nada será como antes...

- Ei Prof, ei Professor! O sinhô insisti em ensinar o que não aprendeu? Prof., ei Professor, respondi a minha pergunta!

Eu desisti, sim, Eu desisti e nem faço questão de voltar à sala de aula. Desculpe-me: não desejo mais voltar à sala de aula, como professor. Ratifico: como professor, meu ciclo de ensinar, findou.

Em verdade, quando ensinava, Eu pouco sabia; e agora que apertar botões e chamar por Google superam as teorias e experiências laboratoriais, tornei-me ultrapassado. Anacrônico. Taí o motivo d'Eu ser aluno, do aluno que um dia Eu fui professor.

À continuação, vou tomar banho e me trocar, porque a carteira da sala de aula me espera. E o melhor: presencialmente, olhos nos olhos, quadro negro versus cadernos e livros. Giz versus caneta e lápis. E no rodopiar da sacolinha plástica, levada pelo redemoinho de vento, quem sabe amanhã ou depois, Eu aprenda a lição que antes decorava. Com efeito, quem não avança, quem não evolui, quem não caminha para frente, dão passos para trás.

Vamos, vemos, vimos e convenhamos que quem decora, nada aprendeu, nada sabe, nada reproduz, nada transforma. Portanto, a habilidade que Eu tinha em ensinar, necessita urgentemente, de reciclagem. Feita a reciclagem, aprender para posteriormente, ensinar.

Os dicionários choram as páginas arrancadas:

"Eu quero uma casa no campo...

.

.

.

Onde eu possa plantar meus amigos,

Meus discos, meus livros e nada mais".

Quem compôs a letra,

Se foi .

Quem interpretou a letra,

Sumiu, para nunca mais.

Quem ouviu e assoviou a letra,

Ficou surdo e isolou-se de tudo.

O camponês e o ruralista?

Perderam a agulha, a vitrola e os animais.

Tudo foi consumido, tragado, engolido,

Pela nova Ordem.

Certo. Ficou pelo menos a sim pli cidade?

Sim; está nos dicionários.

Que fim levou os dicionários?

Para o bem da verdade, mesmo com as páginas rasgadas, fugiram das prateleiras das bibliotecas e acompanhando a moda, fazem parte do Google. Atualmente, desprezíveis relíquias baratas.

Google é santo que não cruza com discos, livros, cabras, cavalos, galináceos, cães, gatos, etc, muito menos com casa no campo; nas quais sapos, joaninhas, grilos, besouros e outros bichos refugiam-se entre as folhagens e flores dos jardins.

Google não ora; Google não reza, mas reúne-se com os amigos cibernéticos?

Também não. Com a desculpa que ainda há surtos de Pandemia, recolheu-se e cada um adotou para si, a tal de inteligência artificial.

Por mim, inventariam um vírus que comessem as placas e chips de máquinas. Assim, poriam fim aos modismos e tudo ganharia luz, brilho, liberdade e voltaria a ser o que era, que nada mais é que, simplicidade no olhar e no existir da vida. Simples, não?!

Verdade, porém, assim como ventos passados não move biruta, a simplicidade passada não comove, muito menos renova o presente. Portanto, resta somente o saudosismo de saber que devemos investir nas melhoras daquilo que temos controle; e fazer vistas grossas, aceitar sem alarde, as que não temos.

Taí uma maneira inteligente de ser exemplo, exercitando a simplicidade. Pois, simplicidade humana aplicada, remenda, coze, costura, simplicidade rasgada. Afinal, no momento oportuno, uma simples colcha de retalhos servirá para cobrir um dicionário do frio gélido.

E não importa o espaço físico, no qual está alojado.

Mutável Gambiarreiro
Enviado por Mutável Gambiarreiro em 04/08/2023
Reeditado em 23/08/2023
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