Aqui não existe natal.

Mais um dia daqueles, com aquela sensação de que de uma hora pra outra eu vou simplesmente apagar. As minhas costas dóem quando fico muito tempo sentado, e se levanto, também não faz a menor diferença.

Meus ombros estralam à cada três minutos, ou a cada movimento mínimamente mais abrangente. Cleck.

Minhas pálpebras pesam, e eu tenho olheiras de viciado. Parece que eu tô sempre abstinente, procurando um pico pelos cantos. Mas é só cansaço. Minto. Esquece.

Tenho 12 horas de sono acumulados até hoje, desde segunda. Um estômago vazio, eu sinto fome mas estranhamente não tenho o menor apetite.

Acabaram os cigarros.

Última metade de dezembro é de foder. Sempre igual, cada vez mais vazio. Os velhotes pedófilos adoram, vestem roupinhas vermelhas e colocam as criancinhas no colo. Todo dia, o dia todo. Uma foto? Não, obrigado.

Abram seus presentes e encham o rabo de panetones e finjam que tudo é diferente e lindo nessa época do ano. Eu fico com o sangue de Cristo, a melhor parte da festa.

Afinal, a festa não é dele? Aniversário? Enfim, soprem as velinhas e façam um pedido, todos fazem.

Não importa.

Meus sapatos lacearam meu pé, agora consigo pisar, isso importa, assim como o hematoma no meu joelho, que agrediu a pia do banheiro, num movimento extremamente estúpido e involuntário.

Quinta-feira. Ponteiros. Tédio. Sozinho. Tempo demais. Faltam 4 horas. E depois mais 3. Depois quem sabe até as Dez. Previsibilidade irrita. Muito. Foda-se então. Sem roteiro. Sem idéias. Me sinto em pedaços. Perdido. Perco coisas. O tempo inteiro, perdendo coisas. Meus brincos, meus papéis, meus amores, a hora, meus fones de ouvido.

Sinto-me atrasando, num delay inexplicável.

1:11 pm.

Cafeína e paisagem cinza. Meu silêncio contemplando o caos. Perguntas pertinentes.

Pierrot é um bobo ou um palhaço?

1:24pm. Não encontro respostas pras minhas perguntas e minha voz por vezes falha.

Sofro de pouca inspiração e talvez gripe, resfriado, pneumonia ou algo que o valha.

Eu não ligo. Foi-se o tempo. Agora eu vivo, aos tropeços mas vivo.

Isso tudo já não me fere tanto. Chegue mais perto que eu lhe mostro, minha pequena coleção de cicatrizes.