Ciclos

É assim que funciona:

Eu tô bem, fazendo as coisas necessárias do dia a dia. Comer. Cuidar dos bichos. Exercícios. Trabalho.

Em algum momento do dia, seja no segundo em que eu acordo, minutos ou horas depois, surge algo seu.

Uma lembrança, uma música, um objeto.

Então a coisa volta, a dor, o sentimento, a saudade, a revolta.

Meu erro foi ter cometido o mesmo erro de deixar você ficar, mesmo quando devia realmente ter ido embora, como você mesmo queria.

Já faz quase um ano e as coisas continuam assim.

Às vezes eu me revolto comigo, tento te esquecer ao máximo, te excluo, te bloqueio, te apago, te jogo fora. Pra que te manter presente? Não vai levar a nada.

Mas nisso eu seco, minguo, apago parte de mim junto e isso me faz tão mal.

O que eu faço? Te trago de volta, bem aos pouquinhos, pra não machucar, sabe? Sabendo que mais cedo ou mais tarde, vai machucar, vai machucar muito.

Mas você volta, eu te ascendo, te trago presente, te faço presente de novo, até a próxima dor, e por um pouquinho, um segundo que seja, as coisas voltam ao normal... Até a coisa voltar, a dor, o sentimento, a saudade, a revolta.

Isso não tem tempo certo pra acontecer, pra ir ou pra voltar. Esse ciclo pode se repetir quatro vezes num único dia, pode durar os quatro dias, ninguém sabe. Você só vem, vai, mas nunca para num canto. Do mesmo jeito quando você tava de verdade do meu lado. Chegou e saiu exatamente da mesma maneira. Parecia um furacão que chega, muda as coisas de lugar e vai embora, e ninguém pode fazer nada.

Aí eu te pergunto, minha riqueza, que porra eu faço com você, que em todo canto que eu te coloque, até em lugar nenhum, ainda machuca?

Se eu te acompanho, dói, se eu te apago, dói. Como lidar com isso então?

Ainda não achei a resposta. Vou seguindo como da, afinal, o organismo respira involuntariamente. Não tem muito o que fazer com isso.

Agora preciso ir, começou a tocar Malandragem e eu percebi que preciso terminar de fazer tudo o que comecei hoje.