Sério, mano.

Sério, mano. Vamos parar de competir pra ver quem é mais fudido? Eu sei o que é acordar 4h30 da manhã, ir pra facu, aspirar a comida e ir pro trabalho, aspirar coca-cola com café, chegar em casa sem saber meu nome de tanto trampar e passar por 3 cidades diferentes todos os dias e voltar e fazer tudo de novo. É pra ter orgulho? Não! É pra lutar pra que isso seja minimizado ao máximo e pra que essa não seja a régua pela qual as pessoas medem o seu valor. E, acima de tudo, acolher e respeitar quem tem que passar por isso (e muuuito pior). O Jaques sabe o que é dedicar os melhores anos da sua juventude e da sua energia pra ser chamado de vagabundo e ver o completo desmonte do seu trabalho. Ambos tivemos que nos virar como pudemos e recomeçar várias vezes. Quando eu tinha emprego de carteira assinada eu também trabalhava com outra coisa em casa, pois a renda era insuficiente. O transporte público é caótico em todo lugar, a exposição, os desconfortos, os extremos cansaços de ir e vir são cruéis. Mas é o seguinte: outras merdas fazem parte de quem é autônomo e/ou trabalha em casa. Vale o respeito que você gostaria que tivessem com você no e sobre o seu trabalho. Não temos salário, nem férias, nem décimo terceiro, nem reajustes, ninguém pra quem prestamos serviço entende que você pode não estar disponível sábado à noite, domingo à tarde, aos feriados ou de madrugada em dias de semana. Não sabemos como será nossa semana, muito menos nosso mês. Temos que trabalhar muitas horas acima de qualquer previsão legal pra garantir as flutuações sazonais. Prestamos o nosso serviço, negociamos, redigimos e gravamos incontáveis e-mails, mensagens, documentos, fazemos a nossa contabilidade, tiramos do bolso qualquer tempo de descanso, somos responsáveis pela nossa própria publicidade e o atendimento ao cliente. Então, assim, sério mesmo, que tal não concluir sobre vivências das quais você não faz a mínima ideia? Que tal não achar que só você é fudido e, acima de tudo, que tal não precisar ter um puta orgulho de ser fudido pra se sentir útil e/ou medir a utilidade do outro?