A SOLIDÃO NOSSA DE CADA DIA

Século XXI.

Ano de 2023.

Eis que a sociedade, globalizada, digitalizada, evoluída e conectada, anda de mãos dadas com a solidão.

Solidão, vivemos em uma pandemia de solidão. Os seus males não são divulgados como deveriam ser. As estatísticas negativas relacionadas à solidão são varridas para baixo do tapete. Não é interessante divulgá-las. Isso tornaria menos belo o futuro lindo que almejamos. Futuro que almejamos. Fomos programados a desejá-lo. Todo dia somos reprogramados à vislumbrar o mais belo dos cenários futuros. Homens felizes, mulheres independentes, crianças cognitivamente cada vez mais capazes.

O belo, tudo belo, tudo lindo, tudo em perfeita harmonia. O homem evolui, torna-se um arauto de si mesmo. Encomiástico de si mesmo. Projeta e desenvolve as mais incríveis tecnologias. Tudo para auxiliá-lo na vida cotidiana. E a vida cotidiana, repleta de facilidades, precisa adaptar-se a beleza do amanhã. Eis que surgem os desbravadores da longevidade. Se não podemos - ainda - ter a vida eterna, devemos, obrigatoriamente, buscar a vida longa. Vida longa e próspera. Desejo pensado e propagado por todos os meios possíveis: livros, filmes, músicas, filosofias, idealismos, cientificismos, etc. Queremos isso e queremos logo. Por que esperar? Ninguém mais espera nada. A paciência é um dom raro. A ansiedade é sinônimo de gente proativa. Ninguém quer ninguém paciente. As pessoas querem, desejam, gritam por pessoas céleres.

Tanta gente em volta; tanta vida ao nosso redor. Metrópoles e mais metrópoles. O universo deixou de ser suficiente. Precisamos agora de um metaverso. E quanto mais gente no metaverso melhor. Conhecemos tantas pessoas, mas não conhecemos nem a nós mesmos. Surge o efeito colateral da aglomeração: a solidão. Surge também uma nova ideia para justificar a nossa solidão: eu não vivo em solidão, eu vivo em solitude. Que linda filosofia de vida. Que forma bela e magnânima de nos apresentarmos aos outros, de sermos vistos como seres humanos evoluídos. Acredite quem quiser nisso. Eu acredito. Eu preciso acreditar. Eu preciso acreditar. Somos bons em acreditar. Precisamos acreditar em tudo. O único ceticismo socialmente aceito é o ceticismo religioso, preferencialmente o cristão. Que coisa primitiva acreditar em Deus, acreditar em Cristo. Sabemos tanto do filósofo sifilítico e sua pretensão de autossuficiência; sabemos tão pouco de nós. Confundimos o que somos com aquilo que gostaríamos de ser... Eu acredito em mim. Cale-se! Eu acredito cegamente em mim.

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Nikolay Gonçalves
Enviado por Nikolay Gonçalves em 09/09/2023
Reeditado em 07/03/2024
Código do texto: T7881690
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