A mudança de discurso

A mudança de discurso

Assim como precisamos tomar cuidado com as pessoas que só nos dizem o que queremos ouvir, tenhamos cautela com as que mudam de discurso conforme é conveniente. A mudança de discurso é muito adotada por políticos, líderes religiosos e até mesmo pelos que nos são próximos. Quem muda seu discurso de acordo com a situação prova que não é alguém em quem possamos confiar e que fará de tudo para nos manipular. Com frequência, essas pessoas nos enganam se valendo de todo tipo de malabarismo verbal para conseguir nos enganar. Temos de ser muito atentos porque podemos cair nesse tipo de truque.

Um bom exemplo de como quem muda de discurso não é alguém crível é a história de uma moça a quem chamaremos de Ana*. A jovem havia se formado em Direito e sua mãe, que era evangélica, dizia que Deus a abençoaria grandemente, fazendo com que ela – que vira que não levava jeito para ser advogada- passasse num concurso. Porém, ou Ana não passava ou passava e não era chamada. Sua mãe falava para ela não ir atrás de empregos “abaixo do seu nível”, pois Deus tinha coisa melhor para ela. Entretanto, o pai, que sempre havia querido que a filha fosse professora de Português como a avó paterna, começou a pressioná-la para que ela fizesse Letras. Ana, que não gostava da área de educação, disse que o que queria era passar num concurso, não fazer vestibular para perder quatro anos de sua vida fazendo um curso do qual não gostava. A mãe então começou a falar que ela devia tentar e a jovem, contra a vontade, fez o vestibular. A mãe adotou o seguinte discurso:

-Minha filha, quem sabe Deus não está querendo lhe mostrar que esse é o seu caminho, que era o que você sempre devia ter feito em vez de Direito. Vamos, minha filha, faça Letras. Pode ser que seja o que Deus quer que você faça.

Vejamos a mudança de discurso. Antes, a mãe tinha bastante certeza de que a filha passaria num concurso e dizia que Deus tinha algo maravilhoso para ela. Depois, quando obrigaram a moça a fazer Letras, a mãe falou que talvez fosse o caminho que Deus tinha determinado para ela. Como a mãe podia saber com tanta certeza o que Deus teria reservado para a moça? E essa mesma mãe falava muito de livre arbítrio. Se Deus deu o livre arbítrio a todos os seres humanos, por que Ele determinaria que uns têm que fazer Letras, outros Medicina, Engenharia, Direito e assim por diante? Essa triste história de pais que quiseram determinar o caminho de uma filha já adulta mostra o quanto as pessoas falam como se soubessem a vontade de Deus e muitas mudam de discurso de acordo com a ocasião.

Um outro bom exemplo de mudança de discurso é o da ex-cantora e hoje pastora Sarah Sheeva. Bolsonarista ferrenha (deve-se deixar claro que este artigo não está fazendo proselitismo político), ela falou, com muita convicção, que Bolsonaro era o escolhido de Deus para salvar o Brasil de se tornar uma nova Venezuela. Entretanto, ele perdeu e então a pastora passou a falar que a esquerda voltou ao poder porque fez pacto satânico com sacrifício de animais. Então o diabo é mais forte do que o Deus que abençoou Bolsonaro? Reforçando-se que não está fazendo proselitismo político, devemos prestar atenção ao que ela falou. Assim como a senhora pastora, há muitos líderes religiosos que fazem verdadeiros malabarismos verbais para fazer os outros de otários. Eu ouvi muito que Deus tinha grandes bênçãos para mim, que tinham recebido a revelação de que Ele fizera grandes planos para minha vida. Disseram-me para ter fé, nunca duvidar e sempre orar e pedir orientação para Ele porque o que era meu “estava guardado” e que eu receberia uma “chuva de bênçãos”. Naturalmente, eu não vi nada se realizar e então me deram as seguintes desculpas: “é porque você não pediu com fé”; “tudo é no tempo de Deus”; “nós fazemos nossos planos mas Deus tem coisa melhor para a gente” e “pode ser que o que queremos não esteja de acordo com a vontade de Deus para nós”. Estranho que essas pessoas que dizem que Deus tem uma determinada vontade sobre nossas vidas também usam muito o discurso de que Deus nos dá livre arbítrio. Então, temos o livre arbítrio ou Ele tem planos para nós e já decidiu de antemão o que nos acontecerá e o que seremos? Isso não nos leva a concluir que Ele não existe, claro, só que prova que não podemos confiar nessas pessoas que falam como se soubessem das vontades Dele e depois mudam de discurso para tentar justificar o que acontece nas vidas das outras pessoas.

Uma outra pessoa, que era bastante famosa e hoje está no ostracismo é Mônica Buonfiglio, autora de Anjos Cabalísticos. Essa senhora, que também foi da umbanda ou candomblé, usava com seus clientes o truque de só dizer o que eles queriam ouvir e, uma vez, abençoou o carro de uma mulher dizendo que ele não seria roubado. Infelizmente, o carro dessa mulher foi roubado e ela ficou furiosa. Mônica simplesmente disse: “Quem sabe agora você não consegue um carro melhor.” Assim, dá para confiar nessas pessoas que, além de só dizer o que nos agrada, mudam o discurso? Tenhamos muito cuidado. :”

Prestemos bastante atenção aos discursos das pessoas. Sejamos cuidadosos quando percebemos que alguém diz uma coisa e depois desdiz. Essas pessoas pregam uma coisa e, com certeza, não a vivem no seu cotidiano e uma dessas pessoas com certeza é a conhecida psicóloga Rosely Sayão, que ensinava que os pais não deviam se intrometer na vida íntima dos filhos e, no entanto, era dura com os seus próprios filhos, só deixando que saíssem de casa à noite depois de uma determinada idade. Isso não é contraditório? E o que dizer da cantora Madonna, que sempre posou de pessoa liberada, especialmente em termos de sexualidade, e não permitiu que a sua filha namorasse antes de completar dezoito anos? A própria Ana, citada neste texto, ouvia dos pais que só devia namorar depois de formada e, quando falava em namorar, a mãe falava : “minha filha, para que namorar? Para sofrer?” Engraçado que a irmã de Ana sempre namorou à vontade e os pais nunca se intrometeram. Quando Ana confrontou a mãe sobre a irmã poder namorar e ela não, a mãe justificou: “é porque você é mais sensível, minha filha, você pode se magoar se pegar alguém que não presta.” E uma moça é obrigada a ficar com um homem se ele não prestar? Não basta terminar o namoro?

Para não encompridar demais o assunto, o que podemos concluir? Que pessoas que mudam de discurso não são confiáveis. O discurso delas não tem a menor consistência. Depois que percebemos quem elas são, elas não conseguem mais nos enganar.

*nome trocado para proteger a privacidade