Temor de poeta

O que mais temo é esquecer o meu talento

Perdê-lo aos poucos pelo desuso

E permitir que uma inércia tome conta de meu dom

Receio

Cair na utilidade prática da vida comum

Enquanto minhas razões sofrem queda

E toda a sensibilidade entra em latência

Não pode ser esse o destino de um poeta

Nem escrever com hora marcada

A arte é sem-tempo, mas jamais anacrônica

A palavra precisa ser dita, sob pena de sufocar

O pensamento perde-se no limbo de tarefas

Quando o poeta adia a sua linguagem

Escrever é como um desejo

Padece de impulso se não for estimulado

E quanto mais se exercita, maior a pretensão

Escrever é como o beijo de um apaixonado

O primeiro tem um ardor que ensejará outros

E os que virão, abrem caminhos para os próximos

Sem-fim literário

Faina bela que lapida o bruto

Em joia rara vestida de letras

Palavras-rubi e frases de safira

Brilham na escuridão da abstinência

Iluminando o poeta em ausência

para que retorne um dia quem sabe

quando a chama estiver se apagando

e o relembre do encanto que o emana

vencida a superfiicialidade paisana

que um dia o fez duvidar

fruto de olvidar

Sem óbvio

Só oblívio

Flora Fernweh
Enviado por Flora Fernweh em 19/10/2023
Código do texto: T7912551
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