Mundo digital: liberdade ou aprisionamento?

Observando o mundo a minha volta e tentando me situar sobre algumas causas que fazem crescer a violência em nossa sociedade, percebo que todas as teorias das quais grandes estudiosos da segurança pública insistem em defender, como questões sociais, econômicas e culturais, já podem ser somadas a outro fator de igual relevância ou até mais efetivo, nos dias atuais.

Nosso mundo está mudando e teoricamente "evoluindo" em uma velocidade surpreendente. Mas as pessoas não estão sendo preparadas para lidar com tanta informação e tamanha quantidade de estímulos que nosso cérebro recebe todos os dias. Nossa vida já não caminha mais a passos lentos, como na época de nossos avós ou mesmo nossos pais. Tudo hoje é instantâneo. Desde alimentos fastfood, aos meios de comunicação digitais, bem como as operações bancárias e diversos outros serviços que podem ser realizados com um simples toque na tela de um aparelho celular.

A comodidade é tanta, que qualquer coisa que proporcione algo menos confortável que isto, ou que traga a necessidade de qualquer esforço adicional, seja físico ou mental, é considerado supérfluo ou inadequado. A tecnologia chegou para auxiliar os homens, mas ao contrário disto, está transformando a sociedade em um aglomerado de seres não pensantes e extremamente reagentes às emoções provocadas pela influência das redes sociais e das "verdades" que elas ditam.

A melhor comida, a melhor roupa, a melhor música, as tendências ideológicas, e até qual sexo escolher, são todas ditadas pelas redes sociais e pela Internet. As pessoas se tornaram escravas de opiniões fúteis sobre assuntos banais, que não trazem nenhum conteúdo rico em cultura, mas promovem prazeres momentâneos, que parecem entorpecer a mente humana.

Os laços familiares estão se desfazendo, os filhos mais novos recebem um celular de presente, para que ele esqueça as brincadeiras e não dê trabalho aos pais. Logo se cria uma criança alienada, que não sabe o que é o diálogo, um passeio no parque ou uma brincadeira de roda. A distância emocional é tão grande, que supera às distancias físicas, nos danos que causam ao desenvolvimento de um filho.

Mas os pais sempre atarefados e preocupados com seus meios de subsistência, no cansaço do dia a dia, não percebem que estão perdendo seus filhos, mesmo morando dentro da mesma casa. Os filhos descobrem às malícias do mundo através da Internet e nem sempre têm a orientação dos pais para dirigir seus passos e filtrar o que é certo ou errado.

Neste sentido, vamos criando uma geração cada vez mais distante das realidades humanas e mais próximas das ilusões do mundo digital. Mundo este que é "democrático" até demais, porque tudo pode ser expressado, mas nem tudo é conveniente ou tem fundo de razão, ou traz benefícios. A ausência e a desvalorização dos valores paternais e da família, não só prejudicam o rumo da criação dos nossos filhos, como são promovidos pelos próprios meios de comunicação. A própria mídia e as redes sociais, trabalham para minimizar a importância dos pais na orientação dos filhos. Com isso, estamos nos tornando uma sociedade escrava e alienada, ao mundo digital. E o que é ético e moral, já não tem mais importância, aos olhos da nova "cultura moderna".

Nós mesmos, adultos, nos sucumbimos aos "encantos" dos mundos virtuais e as vezes nos desligamos de nossa própria realidade. E deixamos de viver experiências humanas incríveis, com amigos, familiares ou mesmo sozinhos em momentos de meditação, lazer e busca por conhecimento, para perder tempo frente a celulares, em busca de algo que alimente nossa alma vazia.

E o que tudo isto tem a ver com Segurança Pública? Porque já não diz mais respeito só as questões econômicas, sociais e culturais? Simples! Porque agora temos os fatores psicológicos, as fobias e os cárceres mentais que criamos dentro de nós. A cada frustração, por não conseguir acompanhar o consumismo exacerbado, a necessidade de aceitação social e as ilusões de popularidade, que o mundo digital ditam como regras básicas para o sucesso, no mundo moderno.

Somos livres em pensamentos e ao mesmo tempo prisioneiros de nossas ansiedades e preocupações. Neste sentido, vários gatilhos são disparados em nosso cérebro, na tentativa de alcançar os resultados que desejamos e conter nossas frustrações. E alguns destes gatilhos, podem nos levar a cometer crimes, sejam violentos ou não. Porque a intolerância é forte aliada das ansiedades e das depressões causadas pela falta de afeto e calor humano. Sentimentos e sensações que o mundo digital não podem proporcionar à ninguém. Por isto, por mais que "rolemos tela" o dia todo, por mais que vejamos todos os vídeos, que nos são sugeridos, sempre sairemos no final do dia, com a sensação de vazio interior. Se não houver um equilíbrio entre o mundo real e o virtual. E pode acreditar, muitos buscam, no crime uma forma de preencher estes vazios.

Tudo isto parece loucura, mas basta pararmos por um instante e começar a observar o mundo a nossa volta, com um olhar um pouco mais crítico e analítico e sensível aos detalhes, aí vamos começar a perceber que estamos nos tornando seres humanos desprovidos de calor humano e de afeto. Com pouca paciência e menos tolerantes. Basta sentar em uma praça e perceber que as pessoas já não têm mais diálogo. Elas sentam umas ao lado das outras, mas estão sempre "rolando telas" e fazendo Selfs. Perdem seu tempo se mostrando e esquecem de viver a vida real, que acontece naquele momento.

Muito em breve, nossa polícia terá também que ser formada em psicologia, para compreender muitas situações, que vão ter muito mais a ver com crises existenciais, do que com má índole. Muitos conflitos, nos dias atuais, podem ser resolvidos com simples diálogos, porque as vezes a carência de afeto, torna as pessoas ásperas e insensíveis. Nós, como agentes de segurança pública, precisamos estar atentos à esta nova geração e as suas peculiaridades. O crescente uso de drogas, os suicídios entre jovens, o uso desenfreado de bebidas alcoólicas, por nossa juventude, são as formas que eles encontraram de se libertarem de seus cárceres mentais.

Quando percebermos que a vida humana é tão preciosa e absolutamente incrível e cheia de possibilidades, mas por nossos próprios méritos e sem a interferência das inteligências artificiais, talvez consigamos nos libertar de todas as nossas frustrações. Porque seremos plenos e realizados, por nós mesmos! Tomara que isto não demore a acontecer.

Quando os pais tirarem tempo para olhar nos olhos de seus filhos, expressarem um sentimento de carinho e afeto, mostrando caminhos e possibilidades, teremos no lar uma verdadeira escola de valores éticos. E muitos criminosos deixarão de existir. Porque estes jovens vão encontrar um lar ao invés de meramente um teto para se abrigarem.

Sei que muitos vão dizer que as tecnologias trazem muitos pontos positivos. Isto eu não discordo! Mas precisamos ter em mente que nós somos os criadores destas tecnologias, mas como criaturas humanas, não podemos nos fazer escravos delas. Equilíbrio é essencial, para que não percamos a essência humana.

Talvez assim, possamos viver em harmonia, criação e criador, sem que percamos o verdadeiro sentido da vida! O amor, o respeito e a afetividade, por nosso próximo.

Por Wilian de Moura

28/10/2023

Wilian de Moura
Enviado por Wilian de Moura em 28/10/2023
Reeditado em 29/10/2023
Código do texto: T7919241
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