Sanidade inconsistente

Enquanto balançava os meus pés, sentada em um carro abandonado no meio da floresta, longe do tudo e ao mesmo tempo do nada.

Pensamentos invadem a minha mente e elevo a minha cabeça ao céu.

Que incrível ele estava, todo azul, com um sol que não te quer magoar, mas quer te acolher para perto dele.

O chilrear de pássaros invade o meu pensamento, e me levo a pensar em como eles me fazem viajar fácil, me fazem sentir segura e em casa, junto de uma lareira e estilhaços de brasas que me hipnotizam fácil.

Nunca consegui explicar a razão de eu simplesmente me sentir hipnotizada por uma luz, estrelas, sol, lua, lareira, foqueira e principalmente a lâmpada de um quarto qualquer que eu nunca tenha visto ou que raramente vejo, me levo fácil e imagino uma viagem perfeita com a luz, em que partilhamos os nossos segredos e jamais nos sentimos cansados ou sem assunto.

Engraçado como os meus pés balançam tão distante do chão, aí eu sinto a minha pequenez nesse mundo inteiro

No dia anterior eu fiquei sentada no Jardim ao lado à Mandume Ya Ndemufayo, enquanto brincava com o elástico no meu pulso, reparei cada pessoa que por lá passava, com estilos totalmente diferentes, vozes, sorrisos, andar, olhar e postura.

O mundo é diferente, tudo é diferente e simplesmente muitas vezes me questiono como é possível pessoas ainda implicarem com o diferente. Não somos iguais de aparência física, quanto mais de atitudes, comportamentos, enfim de personalidades.

Abro os olhos enquanto os raios empendem de enxergar um avião que passa lá bem longe de mim, mas é interessante como essas coisas me chamam atenção.

Igual aquela jovem que passou semana passada bem em frente de mim, vestindo uma calça jeans, com o cabelo preso em uma mola preta brilhante, com as unhas pintadas em rosa choque, tão baixa e tão perfeita, aí como ela é linda, mas como sempre não passou de simples apreciar e me sentir hipnotizada por ela.

Poderia ficar aqui a descrever casos de coisas pequenas que me esvainacem fácil a alma e a minha atenção, com um turbilhão de sensações sou levada pela maré do inconsciente inconsistente e tenebroso que me faz lacrimejar a alma de emoção e lantejar as minhas véis.

Já elevei demais a minha alma, abandono o carro e me ponho a caminhar pelo verde da floresta, com passos silenciosos pela bota leve que uso, enquanto a minha camisola enorme arrasta pelo capim enorme à minha volta.

Nesses passos vagarosos, ouço o barulho da água caindo sobre as pedras, parece uma cachoeira.

Que barulho maravilhoso e sou de novo hipnotizada pelo barulho e me levo em direcção à ela.

Vagarosamente vou sentido o cheiro de pedra molhada, se assemelhando à terra molhada, me lembra a chuva caindo e me levando a viajar no meu primeiro casamento, em plena lua-de-mel, a gente caminhou a pé do bar pra o hotel e teve uma chuva imensa que acabou inundado os nossos corpos e entrelaçamos as nossas mãos numa caminha firme, tranquila e emocionalmente perfeita, obviamente que tu Tiara, adoeceste, afinal de contas tu eras mais sensível em questões de saúde em relacção à mim e olha que eu sofro de bronquite.

Imaginei de novo quando namorava a Ondaka, ela abismal, era extraordinária, a garota era perfeita. Eu a conheci em uma autocarro, quando saíamos de benguela para o Namibe, foi uma época muito boa e sombria. Aquele amor que ele e te suga até o osso, até sobrar nada de ti e ainda assim quereres continuar ao lado da pessoa.

Aquela depedência doentia, cheio de traumas psicológicos, junto da sensação de sou inútil, então só ela me vaia aceitar, portanto, preciso e é necessário me manter ainda aqui, firme nessa monotonia.

E se fosse contar as minhas ironias da vida, chamaria a Valquíria, o meu grande amor, pedacinho do meu céu, a garota que mais me amou nesse mundo e a única com a qual vacilei feio, muito feio. Aí, eu estava numa época da minha vida em que " parou, parou, não tem necessidades de eu ficar justificando as cagadas que cometi no passado, não é justo".

Enquanto ouço diversos barulhos na floresta, vou sentindo a minha pele sendo torrada, me sentindo um bacon na frigideira, já tinha mudado para aquele sol de praia, de piscina, o sol próprio de verão.

E se eu disser que esse sol me lembrou o meu outro relacionamento do passado, a Assana, essa garota brilhante, que simplesmente no pleno direito que ela tem, desistiu de mim, pelo álcool e cigarro, pelas insónias e desistabilidades emocionais, pelos surtos e choros noturnos. Era linda, inteligente, tão interessante, apaixonada por antropologia e amante de poesias, as noites sentadas no tapete com a garrafa de vinho, enquanto ela tocava o ukulele, foram as melhores daquela época.

Se eu continuar presa aqui, ainda lembro das dezenas de mulheres que passaram por mim, das intrigas, dos momentos perfeitos, das idas e vindas, dos sabores e dissabores que passamos e não saio daqui tão cedo.

Hoje

Hoje estou aqui

Na casa dos 40

Presa em uma carrinha velha e abandonada

Numa casinha que é a minha paz

Fazendo a arquitetura de casa, me movendo apenas para apresentar os projetos

Correndo as manhãs com os meus cachorros

Pintando nas horas de surtos

Escrevendo em todo momento

Me acariciando nas noites de frio, na companhia de um café e uma lareira

Aproveitando a solidão, e dançando com ela.

Hoje, sobram lembranças, que invadem do nada

Mas que não atormentam, apenas renascem e me fazem viver cada momento bom, que eu já partilhei com as pessoas que decidiram brigar com a minha insanidade, mesmo sabendo no que daria.

Hoje...

Quinta-Feira, 16.22.2022

MGregório

MGregório
Enviado por MGregório em 30/11/2023
Código do texto: T7943612
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