Traição

Será a traição, meramente mau caratismo da outra pessoa? Será isso pura e simplesmente, ou é uma questão sócio-histórica mais ampla? Que nos é imposta, no caso masculino, muito em função dos livros religiosos, no contexto de uma cultura capitalista que nos ilusiona, no sentido de nos fazer proprietários do corpo da outra, do outro, como se fôssemos todos mercadorias, assim, nos estimulando a nos tratarmos, a nos consumirmos, a nos trocarmos, a nos desfazermos uns dos outros, como fazemos com nossos objetos?

A traição é um fenômeno complexo que pode ser abordado a partir de várias perspectivas, incluindo a antropologia cultural, sociologia e psicologia. Nesse contexto, é importante considerar as influências sociais e históricas que moldam as visões e práticas relacionadas à traição.

A antropologia cultural nos permite compreender, como diferentes sistemas culturais, influenciam a compreensão da traição. Cada cultura possui normas, valores e crenças específicas, relacionadas a relacionamentos e fidelidade. Esses valores culturais, moldam como os indivíduos percebem e interpretam a traição, e o que é considerado aceitável, ou inaceitável, em um contexto cultural específico.

Por exemplo, algumas culturas podem enfatizar a monogamia estrita, enquanto outras, podem ter normas mais flexíveis em relação à fidelidade. Essas diferenças culturais, podem ser influenciadas por fatores históricos, religiosos e sociais, que moldam as expectativas e as práticas relacionadas à traição.

Existem exemplos históricos, de culturas que enfatizam a monogamia estrita, bem como outras, que possuem normas mais flexíveis em relação à fidelidade. Essas diferenças culturais, podem ser influenciadas por uma variedade de fatores, incluindo aspectos históricos, religiosos e sociais.

Esses exemplos demonstram, como as práticas e expectativas em relação à fidelidade, podem variar ao longo do tempo e entre diferentes culturas. Fatores históricos, religiosos e sociais, desempenham papéis importantes, na formação dessas normas e práticas relacionadas à traição.

A sociologia, também desempenha um papel fundamental, na análise da traição, como um fenômeno socialmente imposto. As estruturas de poder, as relações de gênero e as dinâmicas sociais, influenciam as percepções e as práticas relacionadas à traição. Por exemplo, em uma cultura patriarcal, as normas de masculinidade, podem estar associadas à infidelidade, enquanto as mulheres, certamente ainda enfrentam pressões sociais mais fortes, para serem fiéis. Além disso, as instituições sociais, como o casamento e a família, podem impor expectativas sobre a fidelidade e moldar as atitudes, em relação à traição.

A psicologia, por sua vez, examina os aspectos individuais da traição, como as motivações e as consequências emocionais envolvidas. Os fatores psicológicos que contribuem para a traição, podem incluir insatisfação pessoal, busca de variedade, necessidade de poder ou problemas emocionais mais profundos. No entanto, é importante reconhecer que, esses fatores individuais, são influenciados e moldados, por fatores sociais e culturais mais amplos.

Entender a traição, como um fenômeno complexo e socialmente construído, não significa desculpar, ou justificar a traição. No entanto, reconhecer as influências sociais, históricas e culturais, pode nos ajudar a contextualizar e analisar criticamente as normas e expectativas, relacionadas à traição. Isso pode levar a uma reflexão mais profunda, sobre as relações interpessoais e a busca de maneiras mais saudáveis e éticas de se relacionar.

Diversos autores contribuíram para essa discussão, fornecendo insights, sobre a complexidade da traição e suas influências sociais. Alguns desses trabalhos, estão disponíveis em livros, como:

- Bauman, Z. (2004). Amor Líquido: Sobre a Fragilidade dos Laços Humanos. Editora Zahar. Nessa obra, Bauman discute as transformações nas relações amorosas na sociedade contemporânea e como a fluidez das conexões humanas pode influenciar questões como a traição.

- Perel, E. (2017). O Estado de Caso: Infidelidade e Crise no Amor Moderno. Editora Intrínseca. A autora, terapeuta de casais, aborda a infidelidade e suas complexidades, explorando as motivações por trás desse comportamento e oferecendo perspectivas sobre como enfrentar a crise no amor moderno.

- Honneth, A. (2003). Luta por Reconhecimento: A Gramática Moral dos Conflitos Sociais. Editora 34. Nessa obra, Honneth discute a importância do reconhecimento nas relações sociais e como a falta de reconhecimento pode influenciar dinâmicas de traição e infidelidade.

Essas referências bibliográficas ,fornecem insights sobre as dinâmicas sociais e emocionais envolvidas na traição, sem justificar ou desculpar tal comportamento. Ao reconhecer as influências sociais, históricas e culturais, podemos analisar criticamente as normas e expectativas relacionadas à traição, bem como refletir, sobre as formas de construir relacionamentos mais saudáveis e éticos.

Esse artigo, é uma modesta contribuição, para essa questão, que requer um estudo mais aprofundado, por ser tratar de um tema bastante complexo.

Daniel Barthes.

Referências bibliográficas relevantes:

- Foucault, M. (1990). A História da Sexualidade: Volume 1 - A vontade de saber. Tradução de Maria Thereza da Costa Albuquerque e J. A. Guilhon Albuquerque. Edições Graal.

- Giddens, A. (1993). A Transformação da Intimidade: Sexualidade, Amor e Erotismo nas Sociedades Modernas. Tradução de Magda Lopes. Editora UNESP.

- Hochschild, A. R. (2003). A Comercialização da Vida Íntima: Notas de Casa e de Trabalho. Tradução de Vera Ribeiro. Editora Estação Liberdade.

- Becker, G. S. (2011). Um Tratado sobre a Família. Tradução de Laura Teixeira Motta. Editora WMF Martins Fontes.

Bom domingo, Queridxs!!!💫⚡🫶🏽🌈🩵⚡💫

BARTHES
Enviado por BARTHES em 10/12/2023
Código do texto: T7950906
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