A Cultura da Vitimização

A cultura da vitimização assola nossa sociedade na atualidade. Essa forma de se tornar vítima do mundo já vem ocorrendo há um tempo. Se consolidou e tem se disseminado no mundo, à proporção que o indivíduo tem mais "direitos" e menos "deveres". Quanto mais ele se torna detentor de poder - via justiça, redes sociais e nas organizações públicas - mais ele cai na rotina da denúncia infundada, do preconceito "descoberto nas entrelinhas".

Há pessoas que associam a vitimização somente aos grupos identitários, algo que, no meu ponto de vista é equivocado. Parte das crianças e dos jovens , em idade escolar, sobretudo, têm um hábito comum de não aceitar a autoridade dos professores como se respeitava antigamente. Quando se questiona a autoridade, o que está por detrás, é a lógica da vitimização.

Nas Universidades não é incomum encontrarmos alunos que denunciam o professor. Que questionam sua competência, e que se associam com outros colegas para denegrir a imagem do docente. E fazem isso em grupos de "whatsapp" da própria turma, nas redes sociais da Universidade. É um comportamento assustadoramente odioso, com falta de respeito e "fora de lugar" para usar a conceituação lacaniana e, mesmo sendo crime - calúnia - pois muitas vezes o indivíduo que questiona não tem as devidas provas, mesmo assim este comportamento social se repete. Mesmo que o dito cujo tenha cometido um crime, ele deve ser julgado nas instâncias oficiais da sociedade e não em grupos de "whatsapp" ou redes sociais. Parece que a lei de Talião já está em vigor no Brasil há um tempo.

Também entre os pais, existe uma superproteção, sobretudo, na classe média. Quantas mães não vão às escolas, ou enviar mensagens para a direção para questionar o comportamento de determinado professor? O direito da classe média, esconde também ali, uma cultura da vitimização. A classe média tem o "direito" de desrespeitar o ofício do professor, afinal, "eu estou pagando". A escola, deixa de ser sua função Tradicional, e se torna puramente Burocrática, diria Weber. Nesta banalização do ofício do professor, do submetimento a autoridade escolar, subjaz a vítima - "santa" - que nunca erra, e que sempre pode apontar o dedo na cara do outro.

A vítima, neste caso, é um sujeito infantil, com pouca capacidade de olhar para seus próprios erros. "É um menino com birra", exigindo que seja bem tratado, quando ele é que deveria suportar o limite. Na ausência de limite, de castração, de autoridade, não há submetimento. O indivíduo pode questionar tudo e todos. Está aí a explicação para tanto ódio desferido nas redes sociais. Lá não tem limite. Lá se pode dizer o que quiser, da forma que quiser, e para qualquer um. Pode-se, inclusive, filmar o outro, sem o seu consentimento, e republicar em suas redes sociais, num ataque coletivo sobre a reputação do outro. É a cultura do cancelamento, que se alinha a cultura da vimitização. O vitimado, que contesta tudo e todos, é vítima do "mau" de alguns. Ele é "bom", ele faz o bem. Não erra e sempre atribui culpa no outro. O vitimado, agora, pode se juntar com outros vitimados, e fazer o cancelamento do inimigo mortal. Seja um artista, um cantor, ou um cidadão comum, o cancelamento, semelhante a uma gangue, agora podem desferir o golpe fatal contra o "bode expiatório".

Talvez por isso o MMA esteja fazendo tanto sucesso. Como a "porrada" já "come solto" nas redes sociais, nada melhor do que a gente ver isso ao vivo. A satisfação do indivíduo, que antes era feita de forma moderada, atrás de um grande amor, de uma vontade de aparecer para moça, desejada na vizinhança, agora é substituída pela vontade de ir compulsivamente de tudo, de ficar informado sobre absolutamente tudo, de interagir com desconhecidos na internet, de substituir o contato pessoal pela impessoalidade das redes. Está ai: um indivíduo embrutecido por dentro, que não sublima sua agressividade, e fica, portanto, perdido e cruel, precisando projetar esta agressividade destransada.

Referências

Freud

Lacan

Weber

arrab xela
Enviado por arrab xela em 18/12/2023
Reeditado em 18/12/2023
Código do texto: T7956619
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