Óbvio

Há uma certa beleza no óbvio, na obviedade da vida e nas coisas óbvias do nosso cotidiano. É engraçado como o que é óbvio está relacionado ao que é familiar, rotineiro, doméstico, cotidiano. A obviedade está ali, na nossa cara, constrangendo cada um de nós com sua imensa e profunda clareza, até que ousemos questionar sobre a sua constituição. Por quê? Essa tão famigerada pergunta nos levou, ao longo de centenas de anos de evolução, a descobrir inúmeras variações de si mesma.

O que é óbvio traz consigo um senso comum, uma ideia geral que todos aceitamos por convenção. Essa ideia pode ser assertiva, verdadeira ou não. Ao longo da história da humanidade, enfrentamos inúmeras verdades infundadas e, nos tempos atuais, obviamente, mentirosas. No entanto, não é que tudo o que absorvemos da realidade por meio dos nossos sentidos seja vicioso ou passível de enganar nossa percepção da realidade. Na verdade, todos fazemos um recorte do que consideramos real. A realidade se apresenta para todos nós como um espelho fragmentado em múltiplos pedaços, e cada um de nós dispõe de um fragmento para compreender como nos encaixamos nesse descomunal admirável mundo novo.

A obviedade se apresenta como um caminho conhecido que está adiante de nós. É algo familiar, mas ao examinarmos com mais cuidado, perceberemos que esse familiar se revela como algo novo e passível de admiração. Não paramos para pensar em como a atmosfera se tinge de azul toda vez que o sol nasce a leste e se degrada ao longo da tarde em um vermelho carmesim. Não refletimos sobre a complexidade que a natureza nos mostra todos os dias diante dos nossos olhos.

Neste exemplo, a ciência fornece a resposta: a atmosfera não tem esse tom azulado porque o sol reflete seus raios nos espelhos d’água espalhados pelo mundo. Na verdade, a luz solar viaja em inúmeras frequências, e o tom azulado da atmosfera se constrói pela refração da luz solar ao atravessar a atmosfera terrestre, atingindo os átomos dos gases oxigênio e nitrogênio. Essa luz dispersa em todas as cores primárias, com seus respectivos comprimentos de onda, refletidos por essas partículas. A cor que se dispersa e é mais bem refletida é a azul.

Concebemos um mundo repleto de obviedades, mas não percebemos o quão complexas elas são. Podemos compreender que esse movimento de caracterização do que é óbvio ou enigmático, comum ou extraordinário, é apenas mais uma forma que o ser humano encontrou de tentar lidar com as magníficas complexidades deste mundo, desta Terra.

Alexandre Rodrigues de Lima
Enviado por Alexandre Rodrigues de Lima em 20/12/2023
Reeditado em 20/12/2023
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