O anjo

No passado, estive numa grande penumbra, a vida não me parecia fazer nenhum sentido, e sinceramente, eu não achava que ainda havia muito que eu pudesse viver. Foi como viver no inferno, eu sentia muita dor, tentava fugir de todos os pensamentos que se repetiam de forma incessante dentro da minha mente perturbada. Eu não tinha fé, para ser sincera, meu elo com Deus já havia se rompido há muito tempo, para mim, não fazia sentido sofrer tanto e ainda assim acreditar em alguma divindade.

Era como se eu visse o mundo através de uma película escura, nada tinha cor, nada tinha graça.

E além disso, era como se ninguém conseguisse me entender ou acreditar em tudo que eu estava sentindo, era como uma prisão dentro dos meus próprios pesadelos.

Eu tentava constantemente acabar com essa dor, mas ela já tinha tomado conta de tudo, então, as medidas eram sempre pesadas e drásticas, e totalmente carregadas de mais sofrimento, como num ciclo sem fim.

Mas um dia, é como se houvesse surgido uma fresta de luz pela porta dessa prisão, pareceu possível sair, pela primeira vez parecia real. E sim, a porta estava aberta, mas ainda havia um longo caminho até a verdadeira saída. Haviam portas e mais portas , que nunca haviam sido abertas, mas eu consegui.

Hoje acho que estou longe desse lugar, no entanto, a lembrança de estar dentro dele ainda me assombra.

Mas bem, há algo que esqueci de mencionar, a fresta de luz só apareceu porque um anjo abriu a porta, a princípio com cautela, eu estava grata por isso, mas ainda não tinha certeza de que deveria segurar sua mão, não sabia se merecia de fato que ele estivesse comigo ou se eu poderia ser boa o suficiente para merecer sua ajuda. No entanto, a medida que o anjo me motivava, eu entendia: Deus o enviou para me ajudar, então sim, eu era digna. Conforme as esperanças de sair da tal prisão foram se esgotando, eu sabia que precisava ter fé, pois já havia perdido quase todo o restante no processo de tentativa de extermínio de tudo que eu sentia. Eu sabia que de fato essa podia ser a única alternativa verdadeiramente sensata, e foi.

O anjo não tinha rosto quando apareceu, eu sabia pouco sobre ele. Mas hoje, eu não só vejo seu rosto como tenho a plena certeza de que é a feição mais linda que já vi. Ainda lembro dos dias na prisão dentro da minha própria melancolia, mas se antes parecia não haver saída, hoje, por outro lado, não vejo a entrada. E todas as vezes que me sinto angustiada e assombrada pelas lembranças é para o anjo que eu olho, e entre sorrisos mútuos, é possível me convencer do fim daquele tal ciclo

Então...anjo, obrigada por ter me salvado.

Ah, ainda sobre o anjo: tem meu sobrenome, meu sangue e todo o meu amor enquanto eu respirar.