Adolescentes Emocionais

Chegamos à fase adulta e vemos que só há desencontros,

casais infelizes, mantendo-se juntos por causa dos filhos,

casais fingindo felicidade envoltos em traições e deslealdades,

casais mantendo aparências em nome da religião,

casais abrindo o relacionamento para tentar salvar a relação,

pessoas solitárias pulando de cama em cama pelos Apps lixo,

pessoas iludidas com aqueles que não querem senão a luxúria,

pessoas narcisistas que só querem receber afeto sem retribuição,

pessoas dilaceradas por todo o amor sincero que não foi suficiente,

como chegamos à isso em pleno século XXI?

A maior parte de nós tornou-se "Adolescente Emocional",

persegue paixões impossíveis, em chamas, desafiadoras, aventureiras,

que provocam borboletas no estômago e o andar sobre um precipício,

querem a paixão do sofrimento dos romances que terminem com final feliz,

querem os bad boys soturnos, perigosos, obscuros, misteriosos,

as apostas das conquistas são prometidas em letras de músicas dançantes,

mas a paixão nunca foi um amor verdadeiro. Paixão é algo efêmero, passageiro,

a paixão tem prazo de validade, se esvai ao longo dos dias, na rotina, nas adversidades,

a paixão perde a cor, o sabor, o aroma quando a vida adulta se impõe com responsabilidades.

A paixão é sempre juvenil, não quer eternidade, envelhecer juntos, construir uma vida.

A paixão é a paquera, o namoro sem pretensão.

A paixão é fugidia quando é cobrada a crescer.

Já o amor, ah, o amor!

O amor é a maturidade emocional do adulto que se faz disponível,

é o sentimento profundo que acolhe, protege, confere segurança, sensibilidade e verdade,

o amor apoia, considera, compreende, oferece suportes sentimentais e financeiros,

o amor é parceiro, forjado no companheirismo, na amizade, no abraço quente no inverno,

o amor se preocupa, cuida na doença, permanece na velhice, compartilha alma e vida,

o amor é rotineiro, é romântico, por vezes monótono, mas é consistente, firme e leal,

o amor é confiável, fiel, assume os problemas para resolvê-los, se compromete.

O amor é o casamento, a aliança no dedo, a certidão no cartório, o coração acalentado.

Mas os adultos desse tempo, dos 30 aos 60, ainda querem viver apenas paixões,

mesmo que proclamem que desejam amar e ser amados, na verdade querem a paixão,

querem uma paixão infinita que não derreta como uma vela com pavio aceso, impossível!

Quando os adolescentes emocionais encontram pessoas maduras emocionalmente há tristeza,

os segundos se dedicam, amam com intensidade e são tratados como coisa pouca,

a eles é dispensado o tratamento de "colegas", o uso do benefícios, mas o afastamento das sensações,

eles terminam por se reduzir para caber em espaços pequenos que não são seus,

devem secar sua profundidade, pois não há mergulhos, só poças rasas de sentidos,

devem aceitar as humilhações dos "esforços" e "sacrifícios" para serem amados,

como se nada merecessem, como se fossem tão insignificantes e invisíveis,

são tratados como pessoas não especiais, não valorosas, não necessárias,

os adolescentes apaixonados se cansam deles, não os pedem para ficar, não lutam por eles,

pois, afinal, querem encontrar novos adolescentes emocionais para viver romances fadados,

para voltar às frustrações recorrentes, aos comportamentos repetitivos de sofrimentos piegas,

viram às costas aos amores maduros, pois imaginam-se jovens e belos para sempre,

destroem o interior de pessoas incríveis, machucam sem dó pessoas de valor,

e não se arrependem, pois são arrogantes e narcisistas demais para admitir os erros.

No final, o grande desencontro é que os amores maduros não se amem entre si,

que terminem confundindo os adolescentes emocionais com maduros emocionais,

e só tardiamente percebendo o engano, a ilusão, na melancolia do tempo que não volta mais.