Luto

Quem dera eu tivesse o poder, fosse tão grande, que tudo me obedecesse.

Que todo desejo se tornasse realidade ou até mesmo voltasse no tempo.

Eu rebobinaria aquela fita, trocaria os personagens de posição, sei lá faria alguma coisa, que mudaria o curso da história.

Mas isso é tudo história que eu conto, na esperança da distração da dor pulsante que é tua perda.

Me pego divagando, no breve esquecimento da notícia sobre ti, e de repente a realidade me assombra, e meu coração acelera, lembrando-me de quando eu te vi pela última vez, e essa seria a última. Última vez que olharia em teus olhos frente a frente e veria o brilho da vida nele.

A beleza de viver se compara com o assombro de deixar de existir do nada, trazendo uma dor tangente e perseguidora da tua lembrança em nós.

Um ponto final do nada?

Deixa para trás tua história em nós cravada em lembranças de um verão, sorriso contagiante, passos de dança do nada, e sonhos que me conflitavam mas era os seus sonhos e tua alegria neles expressada era confortante.

Para eles mais um, infelizmente. Mas para nós, para uma mãe, avó, pai, irmãos e parentes é uma história, uma vida ceifada na metade, um livro rasgado, um cd partido ao meio.

Um direito simples furtado.

O de existir.

Simplício
Enviado por Simplício em 06/02/2024
Reeditado em 07/02/2024
Código do texto: T7993682
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