O amor na minha visão de mundo

"O amor é complicado". Foi oque eu disse para minha terapeuta na última sessão. Essa curta sentença sintetiza a totalidade dos acontecimentos que me levaram ao fundo do poço. Por conta disso, no que se refere a maturidade emocional, me considero um fracassado. Alguém que fora detentor de tamanha ignorância que foi incapaz de se entender, de reconhecer a própria fragilidade e de não ser capaz de lidar com os desafios da vida. Assim, fracassado, deixei infértil todas as relações em que plantei meu amor.

Desde que me lembro por gente o amor foi dolorido, algo que demandava alerta. Por morar em um condomínio, já presenciei a ida de diversas amizades as quais machucaram o pequeno eu, indefeso e inconsciente. Tais perdas, que se repetiram durante minha curta vida, deixavam marcas, até então, imperceptíveis. Mas, ao decorrer do tempo, culminaram em uma personalidade quebradiça, insegura e carente por atenção.

Já na escola, mais especificamente nos primeiros cinco anos do ensino fundamental, não me recordo de nenhuma amizade verdadeiramente profunda, pois não me encaixava em lugar algum. Usualmente, fazia parte de trios os quais eram formados por dois amigos extremamente próximos e eu. Assim, me sentia excluído dentro do meu próprio círculo social como um estrangeiro. Contudo, é importante ressaltar que tal época, atualmente, está nublada nos labirintos de minha mente.

As coisas mudaram de face no decorrer do quinto ano do ensino fundamental. Nesta época, começou a construção do meu círculo social seguro, estável. O grupo de amigos no qual me sentia pertencente enfim surgiu. E assim seguiu sendo por quatro anos utópicos até que o divisor de águas surgiu. O amor. O amor romântico.

Pela primeira vez, meu coração pulsava com mais vigor, a panapana circulava pela minha barriga sem aviso, a ânsia pelo convívio com o amado se tornou lei. Pela primeira vez, amei alguém e sabia que estava amando. Tal sentimento era de tamanha magnitude, tamanha intensidade que nunca conseguirei descreve-lo. Porém, eu não soube como lidar com ele. Mesmo sendo correspondido, eu não fazia ideia de como deveria agir. Minha única preocupação era em fazer meu amado feliz. Porém, ele tinha suas questões e eu, mesmo sem saber, tinha as minhas. E assim, em meio a tentar administrar a amizade, o relacionamento e minha própria pessoa, perdi tudo.

Deste modo, me encontrei no fundo do poço. Incapaz de realizar a autorreflexão, de entender meu sofrimento verdadeiramente. Incapaz de lidar com os desafios da vida, carente de motivação para tal. Incapaz de me perdoar, Inundado por arrependimentos e pecados do passado.Fracassado. Assim, me cedi ao isolamento, a falta de esperança, a inércia. Acreditava que deste modo, não sofreria mais. Mas o sofrimento da solidão, da autopunição, da desesperança, me provaram o contrário.

Desde então, segui neste fracasso. Buscando estímulos cada vez mais potentes, mais intensos. Buscando tudo aquilo que me afastava daquela inércia. Foi quando conheci as bebidas, o cigarro, as drogas e, sobretudo, um novo amor. Tal amor, estava em perfeita sintonia com minha vida a medida em que se baseava nos extremos. A paixão extrema, o desejo extremo, a carência extrema, o amor extremo. E, por outro lado, a insegurança extrema, o ciúme extremo e a impulsividade extrema.

Em conclusão, carrego inúmeros arrependimentos por conta do amor por me tratar de um fracassado. Assim, meu maior medo é a hipótese de não consiguir deixar de ser um. De nunca mais encontrar um amor que faça meu coração palpitar. De continuar causando dor e sofrimento para mim e para o meu amado em um relacionamento. Em conclusão: para mim, o amor é complicado.

Felipe Yamato
Enviado por Felipe Yamato em 07/02/2024
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