“O vazio também é poesia”

“O vazio também é poesia”

(Thaís Falleiros)

Há uma frase do saudoso Rubem Alves que diz “Sonhamos o voo, mas tememos as alturas. Para voar é preciso amar o vazio, porque o voo só acontece se houver o vazio. O vazio é o espaço da liberdade, a ausência de certezas”. Esse pensamento é fantástico e me leva a pensar o quanto a maioria de nós tem a necessidade de manter o controle sobre tudo, e este é um exercício extremamente desgastante.

Eu explico: na minha vida, nesses quase 39 anos de existência (ainda sou jovem), já tive muitos momentos de mudança, inclusive de cidade. Já experimentei o vazio de não saber se iria conseguir fazer faculdade, o vazio de não saber se conseguiria um bom emprego, realizar meus sonhos e objetivos, vazio de não ter um amor ou amigos etc. Por muito tempo, e até hoje, tento manter o controle de tudo - controle financeiro, controle sentimental, controle dos pensamentos - e o desafio é relaxar, porque a vida é cheia de vazios, é cheia de incertezas, é cheia de novos e desconhecidos capítulos.

O segredo está em deixar o verbo “controlar” e assumir o verbo “conduzir”. Eu devo sim conduzir a minha vida, tentar pensar positivo, olhar com sabedoria para os acontecimentos ruins e tentar extrair um ensinamento, praticar atividades que gosto, fazer o que é preciso para conquistar as metas, mas o fato é: a vida vai trazer provocações e aquilo que estava preenchido (o trabalho estável, o relacionamento pacífico, a rotina cômoda, a vida do familiar que amamos), pode se esvaziar e vai ser preciso lidar com isso.

Logo, há tanta poesia no vazio! Quando ele vem, o mundo todo fica ao nosso dispor, qualquer coisa pode acontecer, inclusive a felicidade. Às vezes, parece que a espiritualidade nos presenteia com o vazio (o qual muitas vezes chamamos injustamente de perda), justamente porque ela sabe que se o copo estiver cheio, não há espaço para o extraordinário. Sem dizer que às vezes o que tem no copo nem é tão bom assim, mas nós já nos acostumamos com o gosto.

Enfim, há uma parábola que gosto muito que se chama “A Vaca e o precipício”, em que fala de maneira hilária sobre uma pobre família que perde a única fonte de suprimento que é uma vaca e, graças a essa perda, evolui. Se você não conhece, pesquise na internet, vale muito a pena a leitura.

E no mais, relaxe. Tantas são as “pré-ocupações” desnecessárias, quantos são os medos imaturos, que nos paralisam. Saibamos lidar melhor com o vazio, pois a vida é repleta deles e são eles que fazem a vida se refazer e ter ritmo. O Vazio é o fim, mas também é o começo. É o que nos move, pois nele não há zona de conforto, ele nos obriga a levantar e viver, ou ficaremos vazios também. “As pessoas têm medo das mudanças, eu tenho medo que as coisas nunca mudem” (Chico Buarque), e se quisermos voar alto e bonito, teremos que aceitar o espaço do vazio que é o tempo da mudança.

Thaís Falleiros
Enviado por Thaís Falleiros em 07/02/2024
Reeditado em 07/02/2024
Código do texto: T7994367
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