Inveja

Apesar de não te conhecer, nutro uma imensa inveja por tu. Sob meus olhos, tu és aquele que roubou minha Felicidade. Contudo, minha Felicidade nunca foi de fato minha. Houve tal ideia pois eu, tolo, me pus a adorá-la sem precedentes, fiz dela meu amado ofício. Agora, como um ferreiro forçadamente deposto de seu cargo, me vejo desolado enquanto tu roubas minha forja que nunca fora minha.

Como não te conheço, não compreendo tuas vontades, tuas dores e todo complexo que constituí o individuo que eres. Porém, para mim, isto pouco importa. Poderia culpar o afogado ao almejar a felicidade do velejador? Ele apenas vê a superficial felicidade em sua expressão que rapidamente se traduz em plena felicidade eterna por meio da sagaz ferramenta do idealismo.

O velejador agora é um pirata. Levando consigo a Felicidade que havia de ser minha. Com seu irritante sorriso. Trazendo consigo uma prepotência absurda ao olhar de cima. Da realidade perfeita que poderia ser minha. O pirata pífio tem dentes tortos e mente infértil, não merecia tal privilégio, porque ele detinha a Felicidade e não eu?

Já não falo por mim. Quem o calunia é a inveja. Mal te conheço e, mesmo assim, te odeio. Te odeio por usurpar minha Felicidade. Que nunca fora minha. Que nunca fora roubada. Sou consciente disto. Porém, admitir que lhe invejo apenas por recalque é desafiador. Nunca imaginei que estaria nesta situação patética mas cá estou eu, escrevendo sobre como um pirata roubou minha Felicidade.

Felipe Yamato
Enviado por Felipe Yamato em 08/02/2024
Reeditado em 22/04/2024
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