Reconhecendo que em mim vive a dor

Ela me ensinou a chorar. Com toda a sua coragem de chorar suas dores e dizer que doía, mostrando o peito, no lugar do coração.

Eu achava chorar uma bobagem, coisa supérflua, desnecessária. É que precisei lutar desde muito cedo e reprimi em mim tantos sentimentos que nem sei se em algum momento me reconectarei com eles.

Ela, não. Ela chorou e chora. Soluça, trazendo à tona as tantas dores que enfrentou e enfrenta. As reconhece. Não foge delas, como eu. Tem medo. Fica assustada, apavorada. E chora. No choro, às vezes encontra consolo, às vezes não. Mas se permite. Eu, não.

Disfarço a dor, tentando fingir que nem está ali. Mas está, silenciosa e vagarosamente me corroendo. Eu nem sabia que sentia dor. Fui boa em camuflar e me fingir de forte. Era uma armadura, mas também uma arma. A que desenvolvi dentro de mim, para não me ver...chorando.

Ela é tão linda, na sua coragem. E nem sabe disso, pois talvez tenha absorvido aquele meu conceito de que chorar a dor é para os fracos. Perdoe-me por isso também, dentre tantas coisas que eu pensei e disse, achando que eram verdades.

O que serão verdades? Quais serão as nossas verdades?

Na sua fragilidade exposta, ela é mais verdadeira do que eu.

Só o que eu queria agora é que, nessa fase crítica, mas ao mesmo tempo, libertadora, ela consiga enxergar em si todas as suas fortalezas. E renascer, recriar-se, ousar ser quem ela é, imperfeitamente linda, corajosa e chorona.

17.08.2023 - dia em que saiu de uma hospitalização de 37 dias, esteve à beira da morte e a suplantou.

Lyzzi
Enviado por Lyzzi em 25/02/2024
Código do texto: T8006804
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