As dinâmicas de afeto na internet

Nasci na década de 90 e fui adolescente bem na transição da era da internet, e consequentemente, algumas dinâmicas de paquera foram substituídas do cara a cara para o remoto da internet. É claro que os romances cara a cara ainda persistem, com pessoas mais preocupadas em preservar seu patrimônio, buscando um parceiro do mesmo nível social, do que encontrar um amor verdadeiro.

Mas, entre as pessoas que conheço, mesmo aquelas que conheceram suas respectivas companhias organicamente, sem a internet, é difícil não encontrar alguém que nunca tenha usado desse expediente para se conhecer alguém. São os tempos modernos. Antigamente, conhecíamos pessoas pelo MSN e pelo extinto Orkut. Hoje, há uma proliferação de sites de relacionamento, além das redes sociais, como Facebook e Instagram.

Pela minha parca experiência, as pessoas interessadas em um parceiro virtual dão alguns sinais de interesse, como postar novas fotos a todo momento, quando anteriormente a pessoa não se importava muito com isso, tudo para se mostrar para o alvo pretendido e, em troca, esperar alguma curtida, comentário ou simples visualização, indicando um sinal de interesse. Aqui, estou me referindo ao primeiro passo, quando os interessados ainda não se conheceram pessoalmente. Nenhum relacionamento virtual permanece apenas virtual por muito tempo. Os mais românticos e sentimentais podem até ficar relendo as conversas antigas com o crush, com saudade, esperando reviver os sentimentos vividos.

Pessoalmente, acho patético quem usa o expediente de curtir fotos antigas da pessoa pretendida para mostrar interesse, mas são como as coisas são atualmente. Sinceramente, quanto mais apenas visual e físico é a coisa toda, mais patético se torna. Como no Instagram, chamar a atenção do pretendente pura e simplesmente pela imagem. Redes sociais não são um catálogo à la carte.
 

Me disseram recentemente que até aqui no RL, tem pessoas que buscam parceiros e se interessam por membros desse site devido aos seus escritos. Bom, acho estranho, mas nem tanto assim. Porque é possível admirar a beleza de um pensamento, da escrita, do poder de elocubração de uma pessoa e isso fazer se interessar por ela. E como diz Stendhal no livro do amor, o primeiro quesito para nascer o amor é a admiração. E não há dúvidas de que, como rede social, embora não seja essa a finalidade do RL, é muito superior ao Instagram. Isso porque aqui trabalhamos com textos, e a produção de texto exige um trabalho intelectual muito maior do que uma simples imagem postada no Instagram.

Espero ter proporcionado uma visão geral de como são os amores líquidos da atualidade, como nasce a atração e como funciona o flerte nas redes sociais. Se soou meio ridículo, não fui eu que consagrei essas dinâmicas de afeto, e sim a sociedade.