ouro de tolo.

Sinto lhe dizer que já não nos conhecemos mais.

Somos completos desconhecidos residindo na mesma casa.

Tomando o mesmo café da manhã. Almoçando a mesma comida.

Usando o mesmo sabonete no banho. Dirigindo o mesmo carro.

Compartilhando a mesma cama. Nos vendo no mesmo espelho.

E, sendo completos desconhecidos.

Lhe desconheço em tantas coisas que acredito que terei de reconhece-lo.

Lhe desconheço em tantas coisas que chego a me questionar se criei um personagem em minha mente.

Lhe desconheço em tantas coisas que por vezes nem mesmo me reconheço.

Me desconheço em tantas coisas que planejo descobrir como voltar no tempo.

Me desconheço em tantas coisas que me imagino dirigindo um carro sem volante.

Me desconheço em tantas coisas que me sinto encarando um relógio sem pilha.

Escutamos uma mesma música, sem sintonia.

Caminhamos na mesma direção com veículos diferentes.

Nossas semelhanças se tornaram banais, e as diferenças em semelhanças.

Encaramos uma mesma paisagem, cada um com seu ponto de vista.

Estamos igualmente certos, enxergando no laço, um nó.

Vivendo uma vida felizmente infeliz.

A mudança é inerente ao ser humano.

E reconhecer isso só pisca ainda mais em luzes neon, o quanto te desconheço.

O quanto nos perdemos um dentro do outro afogados em versões diferentes de uma mesmíssima história.

E, continua...