Duras constatações sobre mim

O meu apreço pela racionalidade e pelo individualismo secular me impedem de agir sob efeito de manada, de pertencer a uma coletividade estúpida, e sobretudo, de ser um ser gregário.

Felicidade alheia é fachada de almas tristes que se consolam com alegrias baratas que somente poderiam se manifestar com a perda da pose, da elegância primária e com um desejo inexplicável de prostrar-se aos demais com um constrangimento recíproco daqueles que zelam por passar vergonha.

Não me realizo na concórdia, o atrito me satisfaz.

Não me contento com o pouco, tenho pavor de acomodação e apego. A adaptação é sempre o norte.

Tenho prazer em medir o mundo pela minha régua, de argumentar até que tudo esteja na conformidade de minha métrica, e sobretudo, de impor minhas perspectivas aos pensantes inferiores.

Egoísmo é o detalhe.

Quero transpor o mundo, e para mim, nada me será o suficiente.

Me fantasio incansável, imbatível e inesgotável, sou sem limites.

Jamais pedirei ajuda, eu a radicalizo e a entendo como caridade.

Sou autossuficiente, e se adoeço a culpa é inteiramente minha, me faltou prudência.

Me culpo e me cobro, porque a vida cobra de quem não cobrou de si o suficiente.

Tenho imensurável horror ao superprotetorado materno e a toda mãe que defenda seus filhos com unhas e dentes, lhes falta a imparcialidade, a impessoalidade, o preparo adequado para o que aguarda a prole, e principalmente a conformação de que o filho é apenas mais um e não dispõe de nada mais além da mediocridade de uma criança que caminha rumo ao ordinário.

Filhos errando, e os pais se fazendo de cegos, assim caminha a pobre humanidade sentimentalista.

Meu vocabulário contempla o termo "de quinta categoria".

Não me suporto, não tenho me aguentado.

A falta de ambição cria a aberração de indivíduos supérfluos.

O materialismo é fonte de todo o meu desagrado.

Incomodo mesmo, e o mundo me incomoda.

A hipocrisia me é intragável, me conservo nas virtudes.

Estou para muito além do bem e do mal.

Me critico arduamente.

Eis minha coragem.

Gostaria de ser narradora onisciente da civilização.

Mas ao contrário de muitos, me contento com meu mero papel de personagem.

Encontro força na dor necessária.

Meu gosto não admite frescuras, aconselho adestrar o paladar.

Nada mais me comove.

Frieza pode ser esperança.

A verdade não espera por ninguém.

Adoro o circo pegando fogo.

Não brindo o que é comum, e enquanto humanos, todo o nosso engenho será desimportante.

Não somos guerreiros nem heróis.

É nobre ter a ciência de que não nos superaremos.

Não desisto.

Flora Fernweh
Enviado por Flora Fernweh em 30/03/2024
Código do texto: T8031481
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