distante

“vou logo ali e já volto”...

a possibilidade num milésimo de segundo faz-se, utopicamente, sentir-se próximo, por vezes, de mesma forma, separa sem dizer qualquer palavra. amo a força que a palavra possui para questões necessárias, seja contra ou a favor.

encontro, di-versos, efeitos entre livros e melodias, como a re-memorar sensações, questionar-se da realidade e temer o que se possa e, impropriamente, mergulhar a sonhar (não por muito, não...) o repuxo do real, resgata-nos do abandono: não tarda.

é assim, bem assim a ciranda das horas no relógio-algoz e este indiferente ao absorto olhar à lâmina semi-luminosa a vir das frestas em denúncia do fim do dia à noite e, à margem do olhar a distância, imaginária, dum amor.

tudo mais aparece, imaginariamente, das coisas: a bruma dum aceno a sumir, único retrato (o lenço em gesto de partida). ao chão a rubra tinta dum coração em metade (não, não... não é sangue, apenas o tinteiro a transbordar a excesso das palavras líquidas - lágrima carmim).

Cá, no aquário, sobre a mesa, dentro do qual há água-viva, vê-se os mergulhos das palavras peixes e o sentido sobre nadadeira musgosa e fria, ampla e viscosa a diluir-se num abandono abissal. saltam os peixinhos de olhares úmidos, enquanto sonho a ouvir pianos e guitarras - "as ilhas dos açores".

sempre haverá o aquário a ornar o amplo desta solidão, quando a ausência num de repente se anunciar e tudo se tornar interminável. é preciso que este imaginário não persista, tanto, no sentido das palavras para as coisas que distam.

(vou logo ali e já volto).

Mar,

em 01 de fevereiro 2008

às 23 horas e 59 minutos

Brasil.