Da necessidade de escrever

Segunda-feira, 4 de Junho de 2007

Se tornou pouco para mim. O espaço. Estava por escrever entre paginas infinitas de caderno. Dizem que esta será a madrugada mais fria do ano. Em breve pretendo escrever toda uma história. Mas não aqui. Já comecei várias vezes. Desta vez há muito o que dizer. Por aqui escrevo desta forma, e não me importo se me faço entender. É só para mim e àqueles raros que tiverem paciencia e talvez alguma conexão mental com a minha pessoa. Imagino que poucos ou nenhum terá os dois quesitos preenchidos.

É agora um momento estranho. De suspensão. O desconhecido que se estende à frente e o peso do passado por sobre os ombros. Tudo na vida pode vir a tornar-se mágoa, aprendizado, ambos. Traumas. Erros do passado, cautela do futuro. No momento já nem se sabe o que era erro. Sabe-se que algo se tornou insustentável. Como um leite que ferveu e transbordou por todo o fogão. Não tivesse transbordado, eu teria a paciência e a energia de a cada vez quase fervendo, abaixar fogo. Vigiando sempre, mas sempre nervosa, atenta. Depois do transbordamento, não há mais o que vigiar. É sair da cozinha. Imaginem os senhores que há de trazer um certo alívio. Uma paz em não ter mais que controlar o fogo e o sobe-desce do leite. Mas uma eterna saudade do chocolate quente que nunca ficou pronto.

Não é a primeira vez que ela recomeça. Não é a primeira e nem a última. Ela sempre precisou entender que nascemos e morremos sozinhos. E que devemos nos manter de pé sempre com a força que esta dentro de nós. E viver para nós mesmos. Ao final é o que todos fazem. Esta é a máxima. Ela disse isso à uma pessoa pouco tempo atrás. "Mantenha-se sozinha...Você tem forças para isso". Ora, todos têm. Até aqueles que acreditamos serem essenciais podem deixar de ser...E mesmo assim terem sido naquele instante. E voltar a ser! Não precisam deixar de ser se não quiserem ou se o destino não se ocupar disso (ah! o destino...meu irmão, lembrei de ti!). Ah, teria sido eterno enquanto durasse e de certa forma foi. Se se tornasse mais, mais seria e ela poderia tê-lo amado para sempre. E pensando que, se não fosse por toda essa loucura, outros ainda estariam a ilustar as paginas da historia dela. Quantos se perderam! Será que era para ser só assim, destino novamente, destino! Ou será que este reserva um deus-ex-machina, alguma surpresa para o futuro? Algumas coisas, não se sabe, se são fim ou inicio. Algumas relações, não se sabe, se acabaram ou ainda vão recomeçar. Nesta vida ou noutra.

À talvez aqueles que leiam isto e que saibam que me refiro a eles, que fique dito que, ela amou e esteve verdadeiramente com eles em cada pequeno instante. Que sofre pelas perdas inevitaveis. Que sente por não poder ser diferente. Que guarda num pedaço do coração e numa parte da memória. Ela confusa. Os sentimentos se misturam tanto! Entregou-se tanto! Ora, as pessoas se entregam por si mesmas, diria um amigo, é verdade. Por si própria, porque foi feliz. Ela jamais foi do tipo que está aonde não quer. E permanece enquanto houver um lampejo que seja de paixão em qualquer coisa. Tudo foi real. E tudo que existiu com tal força se torna eterno. É, se modifica, mas permanece.

Eu frequentemente penso que nem sei o que penso. Eu frequentemente sinto. Eu frequentemente mudo de opinião e não mudo. Mudo. Sinto. Esta será a madrugada mais fria do ano. Tudo é frio. Tudo dói. Uma pequena ternura me arranca um sorriso lateral - tão semelhante ao dele!- . E sinto falta de tanta gente! Me surpreendo na noite fria sentindo saudade dos quatro anos que vivi. Do colo e do abraço tão preenchedores. Daquele único que soube me amar com tanta verdade. E a quem amei de todo o coração. Eis um exemplo do que é eterno, mesmo quando já não é mais. E então vem uma saudade. E então outra, de outro alguém. Daquele que sabia como ninguém ser nos detalhes tudo quanto poderia ser para simplesmente ser. E era. E é. Mesmo longe é. E desejo simplesmente que um dia ele seja tudo aquilo que pode ser e que deseja ser. Uma parte minha estará com ele. Sinto falta. Sentirei. Mas há coisas que não podem mais ser. A vida? A vida sempre segue.

Elle Henriques
Enviado por Elle Henriques em 13/02/2008
Código do texto: T857387