Paredes...
Fique mais um pouco, aqui, à meia-luz
Deixa eu ver teu rosto, assim, bem de pertinho
Tantas coisas escondidas nos vãos da tua face
Quantos sentimentos escondidos, difusos, intensos
Não sei na verdade quem você é
E por mais que tente buscar a resposta
Só consigo perguntas
Algumas vagas, outras nem tanto
Mas sempre incógnitas, como ruas sem saída
Estranha imagem contra a luz
Refletindo você, como uma sombra na parede
Estranho vão no meio do tijolo
Onde passam raízes simbólicas
De um emaranhado difuso e frio,
Onde olho lá dentro e não me vejo...
Estranho pesar de uma quase-morte
Como é que pode ser isso,
Uma ausência estando perto
Dois estranhos num quarto escuro.
É isso que somos... dois estranhos perdidos
Num mundo sem palavras,
O mundo da parede sem cor.
E se essa parede que nos separa
For a mesma que antes nos juntou
Onde está a distância, será que ela existe?
Ou será que foi criada, alimentada, levantada...
Como a massa que faz o cimento e dá forma
Aos vãos frios e estranhos que vão se formando
E depois não se sabe o que fazer com esses vãos,
Se ficam, se vão, se já fazem parte da história
As paredes frias e espessas da
Indiferença, do silêncio e da dor
Paredes sem dó, estranhas figuras
Paredes que estão lá, imóveis, vãs
Parece que choram por nós, pelo nosso amor
Paredes que choram...