Nós e nossas emoções

Eis a seguinte história hipotética:

"Linda era uma garota jovem, tinha seus 16 anos. Ela estava frente ao computador conversando no bate-papo online com um amigo de sua escola que ela estava apaixonada. Seus pais não estavam em casa.

Linda era uma garota alegre, mas era muito explosiva, e tinha ódio por certas coisas. Naquela noite, apareceu no chão do seu quarto uma barata, e ela odiava baratas. Ela começou a gritar e gritar, se afastou rapidamente e ficou estática. Nessas alturas, uns 10 minutos depois, lá estava ela, descabelada e nervosa. O garoto da internet já tinha desistido de esperar resposta de Linda. Mais 5 minutos depois e a mãe dela chegara em casa. Ela estava lá, gritando, e logo a mãe correu ao seu socorro. Linda gritava com a mãe e xingava também, porque a mãe nada fazia em relação à barata, e ela (a barata) continuava lá, parada.A mãe tentou e tentou, mas o inseto era mais rápido. A mãe cansada e com dores, já irritada com a grosseria da filha, foi guardar suas coisas. Mais 20 minutos e o pai chega. A mãe vem correndo ao seu encontro, começa a acusar Linda, e a menina vem estérica acusando a mãe, e assim foi. Obviamente o pai se estressou também, chegou cansado do trabalho, e xingou Linda, mandou-a para o quarto, com barata ou sem. Linda se recusou. Então o pai ordenou que ela fosse comprar pão na padaria da esquina. Linda saiu a contragosto e foi pisando firme. Passando pelo quintal da casa ao lado, o seu vizinho cumprimentou-a, era um idoso viuvo, mas Linda nem olhou na cara dele, apenas disse: "Péssimo dia!" O velho se conteve e entrou cabisbaixo para casa. Na padaria o seu Manoel, sempre gentil e bem humorado padeiro, disse: "Olá Linda, que deseja hoje?" E a garota respondeu: "Me dê logo 4 pães que é esse seu serviço!" O padeiro consentiu com a cabeça e entregou o saco para a jovem. Em casa novamente, Linda foi ao seu quarto e adivinha: A barata ainda estava lá! Linda sentia uma mistura de nojo, ódio e horror ao inseto marrom e pequeno. Então num piscar de olhos o bichinho abriu as asas e vôou janela a fora."

Essa pequena narrativa tenta demostrar nossa complicada situação frente nossas emoções. Pode ser que você não seja mulher, nem adolescente, nem odeie baratas, mas esse exemplo serve para muitos outros casos em que nossa dependência química em relação às emoções destrói nosso comportamente e nos torna seres detestáveis. Ou seja, aquela "barata", aquela pequena "barata" que não estava nem aí pra vc, destruiu seu dia todo. Essa é mais uma complicação nossa em relação a nós mesmos. Nós somos incapazes de administrar nossas próprias emoções. Nós exalamos perfumes cheirosos e sublimes da nossa alma quando nos sentimos bem, quando estamos numa situação agradável. Mas, quando o cotidiano nos põe à prova, aí somos uma fonte de podridão, de mal cheiro. Nós dependemos quimicamente das nossas emoções, sejam boas ou más. Nosso organismo se alimenta delas, e nos nutre tal como as outras diversas sensações químicas, como a do prazer, a da dor e etc. A emoção gera a arte, a beleza, a música, mas gera também o suicídio, a solidão, o desprezo. É preciso que estejamos sempre atentos para que esse hábito, esse vício de emoções ruins acabe. É um esforço e tanto, mas se nos empenharmos nessa meta, certamente seremos pessoas melhores e consequentemente o mundo será melhor. Não se trata de uma utopia, mas de ciência. O homem e a mulher de hoje sobrecarregam-se o dia todo e no final de semana é "rotina" ir ao bar se embriagar, ou chegar em casa e discutir com a esposa, o marido, os filhos. Não se trata de apontar defeitos, mas de tentar trazer à tona uma situação que se não é generalizada, pelo menos está bem difundida na nossa sociedade. Vale a luta para sermos melhores, já que, como disso o grande poeta Fernando Pessoa, "Tudo vale a pena se a a alma não é pequena". Fica mais um espaço aqui de reflexão, nada mais. Obrigado leitor.

Enrico Vizzini
Enviado por Enrico Vizzini em 21/03/2008
Código do texto: T910098