Insônia ad infinitum.

Madrugada adentro, mais uma, minha mente respinga.

Barulho, resíduos do não-realizado e som de chuva. Desperdício, paralisia, palavras recorrentes.

Mentiras, remendos, olheiras. Sono forçado, sonhos intranquilos, despertar dolorido semi-angústia, do tipo: "e agora?".

Olhando no espelho meio que lesando. Ao redor das pupilas, auréolas cor de cobre. Ou ferrugem. Ouro-de-tolo, por favor não se engane, não se encante. Doeria mais em você.

Vó Maria fazia paçoca no pilão e fumava escondido.

Vó Cecília me achava sempre magro e saía caçando coisas pra eu comer.

Quando encontravam-se, falavam sobre remédios.

E eu aqui, no banheiro, revirando isso tudo. No cu da madrugada, cara, nesse mesmo lugar eu já parei de fumar, fugi pra longe, suicidei, prometi, jurei, meditei, descobri verdades absolutas, chorei de desespero, gritei em silêncio, disse pra mim mesmo diversas vezes que toda essa merda ia mudar, mas quando apagava exausto e acordava assustado, tudo já estava perdido e fodidamente igual. Lembranças daquele garoto promissor. Aquela lembrança promíscua das noites etílicas, tudo passa dando nós na garganta.

Não desatam facilmente como o cadarço da garota dos olhos de tempestade; não é tão simples como duas orelhas de coelho entrelaçando-se e passando pelo vão e pronto. Não. É febril, frio e calor ao mesmo tempo. Homogeneidade sádica até pra um masoquista.

Sobre as seringas na gaveta e a nova cicatriz, apenas souvenires.

Sobre minhas abstinências, umas eu lamento, outras não. Às vezes dói. Mas continuamos caminhando não é? Mesmo que por vezes em sentidos contrários e querendo agir justamente ao inverso.

E segue. Eu enxugo suas lágrimas, você me abraça forte, nada importa.

E tudo segue.