Necessidade e Mudança, princípios da natureza humana

Caros amigos leitores, quero tentar com esse texto expor meu ponto de vista sobre alguns acontecimentos e panoramas do tempo atual. Retomemos pois a história humana e vamos traçar uma linha invisível no encalço dos nossos antepassados. Por volta de 2000 a.C. o povo hebreu foi guiado por Abraão, o famoso patriarca, para a chamada "terra prometida". Abraão foi supostamente o primeiro e um dos únicos homens que teve um contato direto com o chamado Deus do Antigo Testamento, Javé, Jeová, Yaweh. Essa foi a primeira grande marca indelével da nossa história. Um homem comum convidava à mesa Javé, cuja personalidade fazia com que Abraão lhe garantisse fidelidade. Alguns séculos mais tarde, seguindo a trajetória do povo hebreu pela história, Moisés foi o libertador e juiz do povo. Tirou o "povo escolhido" do Egito, abriu o mar vermelho e conduziu seu povo para longe do jugo egípicio.

A história correu com o vento. As tribos de Israel se formaram, se transmutaram através de vários acontecimentos, e dessa fonte jorrou para o mundo posterior, o berço da civilização ocidental. Um milênio e meio depois de Moisés, viria ao mundo o primeiro homem que se intitularia filho de Deus, Jesus Cristo. Sua pessoa foi responsável por deleitar o espírito humano e apacentar a humanidade que estava perdida. Pelo menos o tom de suas palavras me fazem concluir que assim o fez. E de fato, a Igreja Católica Apostólica Romana não duraria o tempo que durou se o tal personagem histórico Jesus Cristo fosse uma mentira. Pelas veias históricas do mundo ocidental, por anos seguidos até hoje, correu o sangue do suposto deus-homem morto na cruz.

Alguns milênios para frente no tempo, apareceu na França uma nova doutrina revelada, bem diferente das doutrinas religiosas existentes em sua época. O Espiritismo decodificado por Allan Kardec (pseudônimo do professor Rivail, como era comumente conhecido) trouxe uma mudança significativa no mínimo, para a sociedade moderna. Assim como a palavra de Javé tirou o povo hebreu da tradição religiosa de então, que cultuava vários deuses mitológicos e adorava bezerros de ouro; assim como a boa nova de Jesus tirou os cidadãos romanos de sua mitologia vasta, que tinha como grandes deuses Júpiter e Minerva; do mesmo modo o Espiritismo veio ao mundo como doutrina para embarcar os homens numa nova concepção de mundo. Contudo, não foi isso que ocorreu. Pelo menos até agora.

O caráter de revelação traz o Espiritismo para um âmbito extra-religioso, fora da religião, visto que foi revelado. Foram trazidas à luz da razão novas leis e informações reais. Entretanto, a população francesa tornou-se responsável por adornar a doutrina espírita sob mantos religiosos, o que nunca foi proposto por Kardec, seu decodificador, muito menos pelos espíritos, seus reveladores. Enfim, hoje a doutrina espírita caminha lado a lado com o charlatanismo na concepção popular. É uma pena. Não se tem idéia de que o Espiritismo não existe como religião desde o início. Essa religião espírita foi criada pelos seguidores de Kardec, que acostumados às tradições católicas e protestantes presentes na França do século XVIII, passaram a aplicar seus preceitos sobre a revelação.

Como pudemos perceber, a humanidade necessita de mudança para continuar sua caminhada sob a difícil estrada da vida. Infelizmente hoje, não se leva o Espiritismo tão a sério como se deveria. Igualmente desastroso é o modo como as pessoas em pleno século XXI encaram a existência, impondo severos limites à razão, criando sensacionalismos baratos a todo momento, e sendo extremamente intolerantes no quesito da religião. Muitas pessoas mais velhas reclamam dos jovens por não seguirem à risca a tradição, por não pensarem como eles pensam, por não agirem como eles agiram, de acordo com os moldes socias de sua época. Isso se deve ao fato de que, em breve os homens vão passar por outra mudança radical. Os terrorismos, as catástrofes naturais, o excesso de individualismo, a expansão monstruosa da tecnologia, a perdição da moral, da tradição, da ética, tudo isso nos assusta e nos mantém alertas. Nunca a ciência esteve tão longe dos domínios racionais comuns. A física quântica, as viagens no tempo, os universos paralelos, o infinito. O homem deseja o infinito. Quem eu sou? Da onde venho? Existem extraterrestres? O universo é finito? Deus é uno? É trino? Jesus existiu? A bíblia é uma mentira? A religião é enganadora? São infinitas perguntas, e com certeza temos infinitas respostas. Os tempos são chegados, e em breve algumas dessas perguntas serão respondidas, outras não. O fato é que, estamos passando por tempos de mudanças, o ser humano sente a necessidade de uma mudança.

Não tenho o condão de responder nenhuma das perguntas colocadas acima, não quero ter nem pretensão. Digo que a ciência evolui, os animais evoluem, a tecnologia evolui, nós enquanto seres humanos evoluímos, tudo é um contínuo processo de evolução. Isso é fato, não me critiquem. Se tudo evolui e nada retrocessa, eis a questão: Javé poderia ser Deus? Jesus poderia ter feito "milagres"(= fatos sem prova científica plausível)? Buda teria sido um louco qualquer apesar de bondoso? Kardec foi um mero enganador de pessoas? Deus Pai todo poderoso pode na Sua condição lançar seus próprios filhos no inferno bíblico, ou no inferno existencial? Deus realmente criaria um ser acorrentado à própria ignorância eternamente, ou seja, Deus criaria o Diabo, ser eternamente mal?

São tempos de mudanças, tempos de se repensar: será que eu estou realmente certo em tudo que acho que sei?

Enrico Vizzini
Enviado por Enrico Vizzini em 26/03/2008
Código do texto: T917968