O Final dos Tempos...

Pululam textos escatológicos na rede mundial de computadores. Digo “escatológicos” em ambos os sentidos do termo. Pessoas sérias e estudiosas esgrimam argumentos límpidos sobre temas escatológicos, enquanto desequilibrados lançam pseudo-revelações escatológicas sobre o final dos tempos.

Sendo espiritualista, tenho consciência da evolução. Fé? Bem, fé é um valor que eu não concebo aos moldes da religiosidade; tenho que fé é convicção e confiança. A razão, tantas vezes insuficiente para o homem médio entender os fenômenos físicos da mecânica quântica ou da teoria da relatividade, é ainda menos definitiva quando o assunto é a transcendência de certos conceitos que se apresentam com foros de realidade na consciência humana, independentemente de sua comprovação em laboratório.

Nesse compasso, o final dos tempos novamente ganha força nas cogitações do meio espiritualista. Existem astrônomos indignados com a insistência de muitos sobre um certo astro gigantesco que estaria em vias de aproximar-se da Terra, alterando-lhe o eixo por interação dos campos gravitacionais. Não sou astrônomo, mas imagino que eles tenham muito bons motivos para indignar-se. De fato, um astro imenso, assim considerado com base no tamanho da Terra, esteja hoje onde estiver já teria sido observado pelas miríades de observatórios espalhados pelo planeta. Afinal, dizem tantos, ele está por chegar, não é? Então, não poderia estar tão longe a ponto de não ser observável. E se estivesse tão longe a ponto de não ser observável, só mesmo com uma inimaginada velocidade chegaria em breve tempo à nossa vizinhança.

Mas façamos de conta que não existe a física. Pensemos que não existe a astro-física, nem astrônomos, nem cientistas, nem nada disso. Ainda assim, a tese de que o planeta estaria em vias de sofrer um cataclismo não me parece muito coerente. Vejamos.

O planeta hodiernamente ganha certos contornos evolutivos em que a separação do joio do trigo deve ocorrer. Basicamente é isso. Assim como teria ocorrido há muitos milênios em um planeta que, segundo alguns livros, orbita uma das estrelas da constelação do Cocheiro. Os seres não mais adequados ao padrão evolutivo daquele mundo foram literalmente exilados e enviados à Terra, consoante a história contada no livro “Exilados de Capela” e “A Caminho da Luz”, obras espíritas muito interessantes. Os capelinos por aqui chegaram e edificaram as grandes civilizações da antiguidade, contribuindo com seu conhecimento para o aprimoramento dos hominídeos primitivos que já havia neste orbe.

Essa é história em apertada síntese. Mas, em momento algum achei referências a um cataclismo que teria destruído a civilização lá no planeta de origem. Pelo contrário, vi numerosas teses acerca de catástrofes que destruíram as civilizações que os capelinos montaram aqui, na Terra.

Numa palavra, teria sentido destruir a civilização que se está depurando?

Se tudo for verdade nos moldes ditados pelos livros mencionados, as horrendas ocorrências que tocaram os seres exilados somente ocorreram por causa da continuidade de desequilíbrios que se mantiveram no seio das civilizações edificadas aqui, e não lá no planeta de origem, aquele que ficara livre da presença dos mais atrasados.

Enfim, mas há os que soerguem sobrancelhas esclarecendo: mas a separação do joio há de ocorrer pelo desencarne em massa, sendo os espíritos mais densos atraídos pela gravidade do astro que os atrairá. Para esses, o desencarne em massa originar-se-á do desastre geológico causado pelo astro. Eis que o astro destruidor deve mesmo ser terrível. Mata a cobra e mostra o pau.

Como já disse, não achei referências a uma pretensa destruição da sociedade vivente no planeta de origem, lá no sistema de Capela. Os exilados seriam mesmo uma raça amaldiçoada caso seu afastamento dependesse da destruição de tudo o mais, todo o restante de bom que deveria ficar livre de sua presença.

Acho que é dessa visão horrenda que nasce o senso de raça espúria que toca aos homens em geral. Eu não gosto nem um pouco da idéia de descender de um bando de vírus siderais que só puderam ser extirpados do organismo doente com a destruição das demais células do mesmo.

Para os que adoram a visão escatológica do destino (em ambos os sentidos), a minha mensagem de “salvação” é: preocupem-se em fazer o bem ao próximo. Não percam tempo em cogitações que tomam tempo precioso de uma vida já bastante curta de qualquer forma.

Marco Aurélio Leite da Silva
Enviado por Marco Aurélio Leite da Silva em 30/03/2008
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