Perdão

O perdão é um valor moral presente em todas as religiões. Muito já foi dito sobre o perdão e acerca da natureza diamantina de sua essência. O maior de todos os Mestres ensinou que devemos perdoar não sete vezes, mas setenta vezes sete vezes. Gandhi libertou sua Pátria da opressão inglesa sem disparar um único tiro, assim como que desde o início já perdoando o poderoso invasor.

Não pretendo acrescer nada a esse tema, até porque não teria suficiente erudição. No entanto, humildemente ponho-me em cogitações sobre a NECESSIDADE de perdoar.

Apartemo-nos da religiosidade. O homem vive e evolui no seio da sociedade, de modo que o ente coletivo exerce sobre si evidente influência. Se pensarmos que os conflitos são inevitáveis e ainda numerosos, perceberemos que a paz social depende fundamentalmente da capacidade da sociedade abafar no nascedouro os atritos potenciais que o individualismo enseja na vida em comum. Independentemente dos mecanismos de repressão, é de todo interessante que uma sociedade tenha como valor fundamental o perdão. Eis que mais que um imperativo de ordem ético-religosa, o perdão é talvez o fenômeno que com mais propriedade distinga o ser humano dentre todos os demais habitantes deste planeta. É uma necessidade intrínseca até mesmo ao equilíbrio do ente coletivo, vale dizer, da espécie em si, e não apenas do espécime. Importante perceber que não se trata de uma conveniência que deva ser cultivada, mas sim de um aspecto da própria evolução da espécie humana.

Tenho para mim que os instintos conquistados pelo homem em sua longa jornada evolutiva, e que estão ainda por certo presentes e vigentes, recebem agora o influxo do condicionamento emocional propiciado pela consciência de si mesmo. A razão, comumente apontada como algo frio aos moldes de uma tabuada ou mera lógica aritmética, na verdade abrange toda uma escala de valores que situam-se mais acima ou abaixo em importância conforme as emoções exerçam maior ou menor apelo na conceituação final.

Não sei de nenhum ser humano, por maior seja-lhe a maldade imputada, que não tenha sido uma criança, como todas, sedenta de carinho e atenção.

Creio que é por isso que o perdão é-nos um imperativo da evolução para toda a espécie.

Todos nós devemos perdoar porque todos nós necessitamos de perdão.

Marco Aurélio Leite da Silva
Enviado por Marco Aurélio Leite da Silva em 06/04/2008
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