O AMOR, A PAIXÃO E O PRAZER

O amor não termina no desprazer, pois é justamente aí que ele se distingue da paixão.

A paixão é interesseira e o amor é interessado. Enquanto o amor doa, a paixão toma. Onde o amor tem certeza, a paixão duvida. Onde o amor acredita, a paixão suspeita. Onde o amor se preocupa, a paixão se enciúma. Onde o amor produz segurança, a paixão produz incerteza. Onde o amor vê virtude, a paixão põe defeito. Onde o amor procura justificativas, a paixão incrimina.

O amor desculpa, a paixão condena. O amor valoriza, a paixão desdenha. O amor exalta, a paixão se exalta. O amor eleva, a paixão humilha. O amor enaltece, a paixão se ensoberbece. O amor justifica, a paixão acusa.

O amor confia, a paixão desconfia; o amor tem coragem, a paixão tem medo; o amor encoraja, a paixão acovarda; o amor liberta, a paixão escraviza; o amor é cauteloso, a paixão é obstinada; o amor é prudente, a paixão é desvairada; o amor é paciente, a paixão é ansiosa; o amor espera, a paixão desespera; o amor areja, a paixão sufoca; o amor cura, a paixão faz adoecer; a amor produz bem-estar, a paixão produz constrangimento; o amor dá prazer, a paixão só quer prazer; o amor produz confiança, a paixão produz ciúme. O amor é confiante, a paixão é vacilante; o amor é eficiente, a paixão incapacita.

Enfim, onde a paixão termina o amor começa; se a paixão vacila, o amor se firma e quando a paixão enlouquece, o amor conduz ao porto seguro.

Há um tanto de paixão no amor, mas nem tanto de amor na paixão, visto que pode converter amor em ódio.

Quando a paixão dá lugar ao amor, o sofrer dá também seu lugar ao prazer.

Wilson do Amaral

Wilson do Amaral Escritor
Enviado por Wilson do Amaral Escritor em 22/04/2008
Reeditado em 23/04/2008
Código do texto: T956873