Tempo
Sinto-me triste, talvez decepcionada
O que era um grande amor, hoje são só lembranças.
As feridas cicatrizadas, as emoções petrificadas
A bela história neutralizada e passada.
Sinto nojo de quem antes era minha musa,
Sinto desprezo pelas palavras proferidas
O encanto se acabou!
Deveria pular, oh meu Deus porque não estou feliz?
Se morresse amanhã nenhuma diferença me faria
A pele jovem e a alma tão moribunda!
Estou suja, estou marcada!
Pelas minhas pernas a lama se envolve
Os abutres já vieram buscar a carne podre e exposta!
Ah coração vil, nevoento
Donde foi parar seu contentamento?
Músculo putrefato quando de ti escorreu o mel da vida, da mocidade, do amor?
Sinto a angustia do ser revelar-se em mim,
O punhal do crescimento cravar-se em meu antigo peito.
Ó céu confidente de tristes sofrer,
Cantai em tuas estrelas a nênia dos olhos meus.
Ah, são tantas folhas jogadas e perdidas ao longo do caminho!
São tantos passos e ainda vejo-me sozinha.
Tantos amigos que perdi,
Amores que seguiram seu destino longe do meu!
E é noite que vai, dia que vem
Ano após ano e só enxergo a cova
O alaúde onde tudo cessará, onde tudo dar-se-á por fim.
Donde não mais correrei em direção ao nada e ao tudo.
24/04/08