Sonho 1-98

Uma fileira de gente vinha pelos campos e subia pelo monte acima. Quase uma procissão. Talvez um cortejo fúnebre já que muitos estavam trajados de preto. Seguiam por uma vereda que cortava o monte. Via-se erva em toda a volta de uma caminho cavado pelos pés dos que subiam, em forma de berço. Eu estava por cima desse desfile, como se pairasse sem corpo. Após algum tempo pousei lentamente e incorporei esse grupo enquanto um homem começava a falar: "Arrasem tudo isto até ao nível das fundações dos prédios".

Uns prédios tinham aparecido na linha do horizonte para os quais nos dirigimos de imediato, como se eles estivessem a pouca distância, ou como se o tempo tivesse sido encurtado subitamente.

"E onde empilharemos a terra que vamor retirar?" perguntei eu, quase me impondo sobre o homem. "Faremos uma linha que acabará antes dos prédios. A altura não conta". Disse alguém.

Senti-me a percorrer o caminho que iria ser criado entre a distância de um prédio e essa parede de terra que iríamos eregir, até que me afundei no solo e me vi numa cave onde parecia que estava a morar. Era a cave de um dos prédios, um espaço medonho de negro e de húmido onde um colchão colocado no centro mal dava para dormir descançado. Mas eu passei a dormir e a acordar. No espaço de tempo entre os dois, ficava de pé, imóvel, com vontade de me deitar outra vez. Adormeci dentro do sonho e, quando voltei a acordar, tinha gente à minha frente, dentro da cave, para a qual comecei a falar, perguntando o que estava ali a fazer; se o muro já estava acabado, se a estrada para o monte já tinha sido cavada.

Uma dessas pessoas tinha um espelho à sua frente que a cobria quase toda. Um espelho de corpo inteiro em que eu me via refletido de costas, sem roupa e sem pele, como nas figuras descarnadas das enciclopédias de saúde e eu, ao me ver assim refletido, dizia exactamente "Pareço uma dessas figuras dos manuais de medecina".

Olhei para mim de alto abaixo e reparei que as minhas pernas começavam a afilar, a prolongar-se a entortarem, enquanto que as minhas nádegas se avolumavam, cresciam desmesuradamente. Comecei a assustar-me. O tom de roxo e vermelho do sangue estava por todo o lado, eu repetia não ser possível... e acordei.