Constatação juvenil

Como jovem, fiz meu papel de viver intensamente e de querer tudo de uma só vez. Nunca soube esperar. Em qualquer assunto que fosse, jamais fui paciente com a vida, nunca tolerei suas peripécias.

Ter uma porção de bons amigos, que entenderiam o que hoje pretendo, seria um grande mérito, se não estivessem eles, em lugar qualquer longe daqui, além de meu peito exausto por travar uma guerra que só me trouxe à boca o gosto podre da derrota sem brio.

Os últimos dias estavam sendo de um cansaço espiritual sem dimensões imagináveis. Cada gesto carregava consigo um peso duplo de algo que, na realidade, nada pesava: o canto solitário da lacuna existencial.

Alterno sublimes e obscuros sentimentos humanos, a todo longo instante. E se, ao menos, fosse, hoje, um daqueles finais de semana que prometem alegrias sem fim com companhias inusitadas... E se, ao menos, fosse sexta-feira... E ali é que mora toda iniqüidade, humana ou não, mas é nas reticências, nas entrelinhas da vida, nos espaços que deixam vácuos de incertezas que mora todo perigo.

Sentir-se assim deve ser normal, ainda mais em domingos à noite, onde tudo é como o fim de uma vida insossa e início de outra mais ainda, onde tudo parece ser passível de grandes revoluções, quando, na verdade, é tudo como antes. Nada começou, nem terminou, é absurdamente igual, como todos os dias anteriores, apenas uma invenção humana medíocre, para que os derrotados encontrem um sentido para permanecer a respirar durante a semana que inicia e a vida que continua como um fardo em suas exauridas costas.

Mais fácil seria usar cocaína, como fazem alguns dos meus companheiros adolescentes, mas hoje, nem disso seria capaz. Meu absolutismo inútil impede-me de ser uma arruinada corriqueira, como tantos que por aí estão, a vagar sem razão, sem encontrar um destino enfim. E esse regime, com o qual administrei meus dias até hoje, preza a perpétua resistência, não desistir jamais, ser sempre incrivelmente forte diante das adversidades. Essas promessas juvenis é que estão me apagando aos poucos, pois estão me direcionando à uma frustração mortal.

Desejava estar à frente, sempre. Mas de que adianta? Se tudo, sempre, há de ser uma questão de ângulo? De nada adianta ser uma pessoa brilhante se não houver, no âmago do ser, um genuíno sentimento de grandeza. Ser reconhecida por algumas pessoas, possuir um respeitado nome, ter dinheiro e ser considerada bem-sucedida na vida, não implica em ser realmente grande, julgamento de uma prodigiosa proeza deve partir de dentro. E, honestamente, não senti, em nenhum dos dias de minha vida, que fiz algo de realmente grande (teve aquela vez que ajudei uma senhora com as sacolas, mas somente isso) e que fosse digno de verdadeiro orgulho.

Chana de Moura
Enviado por Chana de Moura em 19/05/2008
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