Um Boi numa Enrolada
Certa vez de madrugada,
sai com o meu caminhão
pra fazer um frete em uma cidade,
a muito, distante da minha.
Não sei se foi sorte,
ou azar em demasia,
mas acredito fielmente
que um fato deste nunca existia.
Enchi o caminhão
com boi gordo pra abate,
isso foi já pela tarde.
Sai pra Castanhal,
longe por demais,
a viagem por inteiro,
ia levar o resto do dia,
talvez chegaria lá pra meia noite,
mas pela manhã,
em casa, amanhecia.
No meio de tanto boi,
tinha um, que só de rebeldia
batia na gaiola,
feito desesperado.
Só que ele não contava
com um buraco
que no piso tinha provocado.
Bateu com tanta força,
que rompeu jequitibá,
de solavanco, sua perna entrou
num buraco que rasgou.
Em desespero logo pulou,
Mas, que triste, seu rabo,
no cardam enganchou.
Nossa que tristeza!
Enrolou por mais de légua,
quando eu fui me atentar,
o caminhão já tava pra parar.
Até que chegou numa ribanceira,
e não agüentou mais rodar.
Nossa senhora!
O boi estava esticado
feito “liga” de estilingue,
os olhos já estavam no cupim,
e as orelhas, lá no fim,
que já tinha até sumido.
Tava todo esticado,
nem berrar agüentava mais .
Eu olhava e sorria,
nunca tinha visto aquela estripulia.
Logo fiquei preocupado,
não sabia o que fazer,
se o boi fosse morrer
o dinheiro do frete ia perder.
E agora o que fazer,
uma luz veio acender,
da cabeça de meu amigo, Zé Budé.
Que me disse com cuidado:
- Se enrolou, pode volver.
Que idéia magnífica,
de um salto liguei o caminhão
e uma ré fui engatando,
voltei uns dez quilômetros,
e o boi desenrolou,
ficou ali quietinho,
mas logo o couro regenerou.
Fiquei muito aliviado,
ao ver o boi de volta,
fechei o buraco da gaiola
e segui minha viagem.
Essa foi uma das historias
que por minha vida passei.
Podem não acreditar,
mas esta, pela virgem santa,
eu presenciei.