CASTIGO DOS SANTO

I

O povo, na sua fé,

Cridita que São José

Domina as força da Terra:

Num há mal que não remova,

Traiz o Só e faz que chova

E nosso povo num erra!

II

Eu, mesmo fui testemunha,

Lá na cidade do Cunha,

Do podê do protetô;

Nessa cidade polista,

São José da Boa Viswta

É o santo me mais valo!

III

Se demorasse a chuvê,

Todos ía recorrê

Ao seu santo preferido;

Fazia os home as novena

E aquele Santo, cum pena,

Atendia os seus pidido.

IV

Mais, às veis acuntencia

Que o Santo se aburrecia

E os pidido inguinorava.

-Pudia o povo rezá,

Noite e dia, sem pará,

Chuva mesmo, num mandava.

V

Para tais ocasião,

Só havia a solução

De dá ao Santo um castigo:

-Tirava o Santo do Artá

E punha nôtro lugá,

Bem deferente do antigo.

VI

Sem quarqué adijutóro,

Morando nôtro oratóro,

O Santo se chatiava;

E dispois de arrepindido,

O Santo ovía os pidido

E logo, chuva mandava.

VII

Entonce o povo, cum fé,

Vortava com São José

Prú lugá anteriô;

Quando via a sua image,

Toda gente, na passage,

Saudava o seu protetô.

VII

Mais, uma vez se passô

Que São José empacô

E não fazia chuvê.

E se a chuva num caísse,

Como todo o povo disse,

Munta gente ia morrê!

IX

Tiraro o santo do artá

E pusero, em seu lugá,

Uma image de São João;

Ao se vê posto de lado,

São José ficô danado,

Feiz chuvê aos borbotão!

X

A chuva apenas parô

Quando o Santinho Vortô

Pru seu lugá de dereito!

É pruisso que lis digo:

-Quando li dé um castigo

Castige, mas com respeito!

Marcos Coutinho Loures
Enviado por Marcos Coutinho Loures em 29/07/2006
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