E AGORA, MANÉ? (PARODIANDO DRUMMOND)

E agora, Mané?
O forró já terminou,
o povo foi todo embora,
e sua bela senhora
com um cabra de abufelou.
Você sozinho ficou,
levaram inté seu jumento,
presente de casamento,
um companheiro arretado,
que não foge do pesado
em todo e qualquer momento.

Está sem sua mulé,
que anda pra riba e pra baixo
agarrada com outro macho,
dando cheiro e cafuné.
E agora, Mané?
você tá mesmo lascado,
sem ter um tostão furado
pra embiocar uma cana
e esquecer dessa sacana
e desse amaldiçoado.

Meu bom cumpadre, e agora?
você que faz só zoada,
que vive de dar gaitada
por esse mundo afora.
Você que a toda hora
gosta de pilheriar,
de sempre arremedar,
de botar muito apelido,
de ver o touro caído
e das pessoas mangar.

E agora, meu bom Manezim?
em vez de ter um amor
só tem cabra falador
pra lhe chamar de cornim.
E a coisa agora tá ruim:
você não tem rubacão,
não tem quem cate o feijão,
quem faça um prato de sopa,
quem lave a sua roupa,
quem cuide do seu gibão.


Com uma trave na mão
quebra a sua panela,
o novo retrato dela
e o de Frei Damião.
Olha para o caminhão
e pensa em ir embora,
mas vê a Nossa Senhora
sorri na sua parede;
volta e se deita na rede,
se acabrunha e chora.

E se você dançasse
num forró um xote,
e num belo cangote
com prazer cheirasse.
Talvez se agradasse
dessa formosura
e que nem rapadura
deixasse a vida doce,
e talvez inté fosse
o fim dessa amargura.

Sozinho nessa tapera
que nem um bicho do mato,
só matutando em boato
feito uma besta-fera.
A sua raiva acelera,
e acaba com sua fé;
como o canto da guiné
diz tá fraco e tá lelé.
Você é burro tinhoso,
um cabra muito teimoso,
você é corno, Mané!