A DOR DO CAIPIRA

Eu num sô tão véi ansim

Cuma o sinhô me chamô,

Tumém num sô tão novin,

Sô quais da idad’o sinhô.

Tô um tiquin mai calejado

Mó das marca da vida,

O corpo um tanto arquiado,

Caus das dor já sofrida.

Trabaio indeis de minino,

Prantano e carpino roça

Sem nunca perdê o tino.

E o sinhô me fai troça...

Lidei cum gado de corte

I leitero, uma beleza.

Infrentei inté a morte

Pra inchê a sua mesa.

As ruga na minha testa

Pode num sê bunita.

Mai elas é que atesta

A ixperiença bendita.

Amansei burro brabo,

Campiei boi no mato...

Dirrubava p’r o rabo,

Isperto que nem gato.

Mai a idade chegô...

Meu corpo si infraqueceu,

Meus braço já se afroxô,

Meus cabelo imbranqueceu.

A dor maió do que tudo

Ninguém sintiu mai que eu:

Pono fim no meu mundo,

Minha sinhora morreu.

Fim de tarde, eu a chorá,

Sentado aqui, mei ao léu,

Ispero a noite chegá

Pra podê oiá pro céu.

E quando a noite descê

Pro arto eu fico a oiá,

Pois ela só pode sê

Mais uma istrela a briá.

Tonce eu pego a violinha

I começo a pontiá

Oiano a istrela minha

I o meu amô a mi oiá .

Moço, essas ruga maió,

Que o sinhô vai repará,

É bem aqui, óia só,

É as ruga de chorá.

Tonce, num chega pra mim,

Pra mi firi por querê,

I chamá eu de veím

Pra se ri do meu sofrê.

Obrigado, ROSA SERENA, pela agradável interação. Beijo na alma, querida.

ROSA SERENA

Óia anqui seu moço

Num cassuo ducê não!

Meu riso foi só um troço

Que caiu nos meus zoião!

Sei qui ocê é trabaiadô

Purissu qui tô aqui

pra cunvidá vois micê

Prá trabaiá prá mim!

Minhas terra tão abandonada

Pru farta di mão de obra

Pois já num ixesti seu moço

Mais quem trabaia na roça

Desurpa se te ofendí

Cum este meu jeito matrero

De tudo sempre a ri

è coisa de povo minero!

Júlio Marques
Enviado por Júlio Marques em 24/11/2010
Reeditado em 24/10/2014
Código do texto: T2633582
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