POESIA ALENTEJANA (II)

Sou alentejano, como todos sabem ou deduzem e, por isso, o Alentejo está sempre prsente no meu coração. Para mais, porque tão longe estou. Gosto muito de poesia e, como não poderia deixar de ser, a alentejana é especial para mim. Os poetas do Alandroal são imortais!

Nem sempre estou com inspiração ou tenho um assunto para desenvolver uma crónica. Assim, dando um pouco mais de vida ao meu espaço, hora ou outra colocarei aqui um poema, algumas quadras, enfim. Hoje publico poesia de Manuel Inácio Leitão (Pisco), natural de Hortinhas.

MOTE

Adeus quinta da desgraça

Almadiçoada sejas tu

Já criei ferrugem nos dentes

E teias de aranha no cu.

Eras por todos cobiçada

Na freguesia do Carregueiro

Reformei-me da vida de mineiro

E foste por mim arrendada.

Começaste a ser cultivada

Davas fartura na praça

E hoje quem por ti passa

Vê as tuas árvores a cair,

Vou-me de ti despedir

Adeus quinta da desgraça.

Tinhas muitas laranjeiras

Todas as espécies de fruto

A vender o teu produto

Corria todas as feiras.

Hoje romperam-se as algibeiras

Que eram forradas de pano cru

Já pareço um gabiru

Que anda no mundo ao abandono,

E eu vou-te entregar ao dono

Almadiçoada sejas tu.

Sempre tiveste valia

Quando eu era teu rendeiro

Tu é que me davas o dinheiro

E era de ti que eu comia.

Quem é que a mim me dizia

Que iam abaixo os teus nascentes

Foi talvez dos dias quentes

Que vieram no pino do Verão,

Fixaste-me a alimentação

Já criei ferrugem nos dentes.

Em água tinhas riqueza

Foste sempre bem regada

Hoje és por mim abandonada

Por força da natureza.

Da minha carteira andar tesa

A culpada foste tu

Ando roto e quase nu

A viver sem alegria,

Ando com a barriga vazia

E teias de aranha no cu.

alentejano
Enviado por alentejano em 01/11/2006
Código do texto: T279483