Mentira do caipira.
Num sei si tava acordado
ou si tava a sonhá.
Nu meu sertão queridu
nasceu um dia bunitu
que fiquei a admirá.
O Só briava forti
iluminava o lugá,
maisi uma coisa isquisita
comecei a repará.
A bicharada toda estranha,
as vaca piando,
boi a cocoricá.
Minhoca e cobra voando,
pensava tá sonhando
inté eu trupicá,
num desses pexe qui da xoqui
foi grande o susto, inté puis a chorá.
A passarada cantarorano
no gaio da laranjêra.
Cueio e lebre pulano
iscondeno na capuera,
do tar Saci Pererê
que queria brincadera.
Inté Mula-sem-cabeça, troço disajeitado;
Curupira do pé pa traisi, credo que coisa feia.
Meu sertão tava uma coisa
que nem gosto de alembrá.
As coisa que eu vi
nem cunsigu expricá.
Nas sexta-fêra santa
eu ficava a insurtá,
que se o tar Saci existisse
podia vim me visitá.
Quanta judiação
vê o meu sertão
todo de perna pro á.
O rio vortano pa traisi,
como é que a gente faisi
pra tudo isso mudá?
Caí de jueio, comecei a orá,
abri o zóio de repente
e o sertão minha gente,
istava bunito a briá.
As galinha no terrero,
as vaquinha no pasto.
Tudo vorto ao normá.