Raízes de um Matuto

Sou homem de uma Terra só.
Não troco meu rancho, por nada.
Já na hora de acordar me alegro,
com o barulho das bicharadas.
É seu moço, já rocei muita lavoura.
Modéstia a parte, sou bom num cabo de enxada.
Sou homem de noites mau dormidas,
pela dor das mãos calejadas.
Mas eu não fujo da lida.
Não sou de temer batente!
Faça chuva, faça sol
eu estou na linha de frente.
Planto milho, coentro,alface.
Nessa terra dá de tudo.
Feijão, jiló, tomate.
Fruta então, tem pra perder.
Jaca,manga, abacate.
fica tudo lá, pros bicho comer.
É seu moço,sou homem de muita sorte.
Tudo que preciso, tenho.
Tudo que procuro,acho.
Água boa, tem na mina.
Peixe bom, tem no riacho.
Mandi, piapara,lambari.
É por isso que digo:
 por dinheiro nenhum do mundo,
arredo o pé disso aqui.
Quando quero me divertir,
vou nos bailes, nos arrasta pé.
Dia de domingo vou a missa,
pois homem que é homem,
tem que ter fé.
Tem umas festas bonitas.
Festa do Divino, Folia de Reis.
Tem quermesse,tem novena.
Procissão, tem todo mês.
E assim, a vida me leva,
sem nunca mais me trazer.
Nessa Terra, eu nasci
e nela, hei de morrer.
Quando Nosso Pai, Nosso Senhor,
quiser me levar daqui pra riba,
e esse corpo, que hoje é carne
um dia virar pó.
Quero ser enterrado bem aqui.
Como disse seu moço.
Sou homem de uma Terra só...
Homem de uma Terra só.



Guiné Piccolo


 
Guiné Piccolo
Enviado por Guiné Piccolo em 18/12/2019
Reeditado em 04/03/2020
Código do texto: T6822195
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