O Caboclo Cantador

Pr'essas banda conta as lenda sobre um caboco matêro

Sujeito bão, trabaiador, respeitado violêro

De alcunha Zé Matias, um pai de família honrado

Só tinha por vício a viola, que levava pra todo lado

Um dia, Zé caminhava, calado à beira do rio

Quando ouviu voz tão linda que até sentiu arrepio

Olhou então entre as foias e viu a dona do canto

Uma mulher linda e nua que lhe lançava quebranto

Sem podê dizê nada, sem força pra resisti

O pobre Zé entrou n’água, enquanto saia de si

Mas o enlevo era tanto que ele tinha que tocá

Puxô então sua viola e começô dedilhá

A mulher que até então estava ali distraída

Parou um segundo seu canto e mergulhou encolhida

Foi o que bastô pra ele percebê onde estava

E que a mulher era a Iara que já pro fundo o levava

Mas sendo um ser musical, ela perdeu sua magia

Ao encontrá um igual que o seu segredo sabia

E a danada fugiu, deixô Zé ali sozinho

E ele sartô logo d’água e retomô seu caminho

A história virou repente que ele cantava com graça

A música, sua paixão, o sarvara da desgraça

Por outro lado a sereia, que se comprazia com a dor

Agora segue o caboco, muda, sofrendo de amor