Cuidado com eles!

Não canto o desencanto,

Mas canto o espanto;

Eles querem tanto

Que eu pareça fraco,

Que eu precise deles,

Que não me aborreça;

Que pareça santo.

Querem o meu sangue

Em salvas de prata;

Que eu produza ouro

Mas que eu vire lata,

Que eu coma veneno

E chame a medicina.

Que eu seja sereno

Que essa é a minha sina.

Eles querem tudo:

Me fazer sujeito

Que eu bata no peito,

Seja brasileiro,

E chame um engenheiro

Se eu não tiver casa.

Que eu seja franco,

Que passe no banco,

Que eu tenha um nome,

Que vá no machado

Se estiver com fome.

Que eu seja da igreja,

Aprenda no ceja,

Que eu tome cerveja

Até ficar tonto,

Que a minha música

Seja sertaneja

Que aí estou pronto.

Eles querem muito

Mas eu quero um pouco;

Quero todo o mundo

Que não seja surdo

Pra falar de arte,

Essa é a minha parte

Nesse latifùndio.

carlinhos matogrosso
Enviado por carlinhos matogrosso em 29/10/2010
Reeditado em 29/10/2010
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