CIDADE EM ESCOMBROS

Peculiares estrelas reluzem no céu,

espelham-se nas águas,

mais abaixo,

no tremeluzir cintilante das árvores,

no rio de sempre;

e os meus punhos de carmim são

como gumes de facas,

direccionados à lua,

que continua parada no seu cinzentismo

de silhuetas informes, em paredes

indivisíveis, de ilusões de outrora.

Janelas com olhos de mosca, acendem

escritórios,

com manequins no lugar de pessoas;

e guindastes abrem suas temíveis

mandíbulas,

que nos muros se desenham e os gatos

ignoram,

como sem vontade de ter vontade,

senão o que os move por estimulação

siamesa, dando caça ao alimento, que

lhes exige de felina criatura audácia.

Estátuas cheias de verdete, engalanam

as ruas e avenidas,

sem carros nem transeuntes,

apenas e só vagabundos, dobrados em

quatro,

na agonia das sirenes, que se calaram,

sem aviso prévio, enquanto todos

continuam escondidos em subterrâneos,

fugindo das bombas, da Terceira Guerra

Mundial, que principiou

com um irreflectido gesto tirânico.

Só escombros na cidade, a este momento

avançado da minha escrita, enquanto

as pessoas se estreitam,

nos esconderijos e ouvem os

queixumes,

das crianças e dos idosos,

implorando por um pouco de água, mas

sair à rua é suicídio, e entre choros,

espeto meus braços com setas e vou

à luta infame, que se trava lá fora,

num mundo, que agora desconheço.

Jorge Humberto

13/02/11

Jorge Humberto
Enviado por Jorge Humberto em 13/02/2011
Código do texto: T2789593
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