BRINCANDO COM LETRAS

Gosto de brincar de poesia, sonhar que sou um poeta, mergulhador nas palavras e construtor de frases tão remendadas pelos cortes afiados por onde emanam meus versos. Sem charuto, sem uísque, sem outros artifícios, somos apenas, a tela, o pensamento e eu, emprestando meus dedos ao teclado e buscando inspiração na própria inspiração teimosa que me guia nesse momento, tão meu, tão fecundo, tão bonito, que é exatamente a hora de criar uma historia, de buscar no intimo a melhor colocação para a escrita. Imagino paisagens primaveris, outonais, e até mesmo veranistas mesmo estando no inverno.

Imagino-me vestido como um Russo na praça vermelha, talvez não tomando vodca, mas quem sabe um chá bem quente, com algumas gotas de limão, e um pedaço de croissant desses que não se ver por aqui, mas que sei que existe por lá.

Quisera pudesse, estaria em tantos lugares ao mesmo tempo, beijando a brisa gelada soprando forte ao meu ouvido, fazendo-me encolher os ombros e desejar estar embaixo dos mais grossos edredons, de um cinco estrelas em São Joaquim, em Gramado, em Campos do Jordão e talvez em Bariloche.

Mas o fato é que estou aqui, trancado, num quarto aberto, no litoral norte da Bahia, bem pertinho do sertão, num inverno que nem chega obrigar-me usar uma blusa.

O LA FORA, TÁ LA FORA E NÃO ME IMPORTA SABE-LO, UMA VEZ, QUE AQUI AINDA ESTOU.